Depois de se apropriar dos símbolos nacionais, Jair Bolsonaro conseguiu sequestrar o Dia da Independência. O capitão transformou o 7 de Setembro numa data nacional do golpismo. Coloriu as ruas de verde e amarelo para incitar a desordem e ameaçar a democracia.
Apesar do isolamento político, o presidente mostrou que ainda é capaz de mobilizar uma minoria barulhenta. Gente disposta a se embrulhar na bandeira do Brasil para defender medidas de exceção, como a prisão de opositores e o fechamento do Supremo.
Na mira de quatro inquéritos, Bolsonaro voltou a cometer crimes de responsabilidade em praça pública. Em Brasília, afirmou que o tribunal tem duas alternativas: “entrar nos eixos” ou “sofrer aquilo que nós não queremos”. Em São Paulo, chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e disse que não cumprirá suas decisões.
Em outra cena de golpismo explícito, ele repetiu que não aceitará o resultado das urnas sem o voto impresso. “Eu não posso participar de uma farsa, como essa patrocinada ainda pelo presidente do TSE”, afirmou, em novo ataque ao ministro Luís Roberto Barroso.
Os bolsonaristas não cumpriram a promessa de depredar a sede do Supremo, mas vulgarizaram o clima de afronta ao tribunal. O capitão aposta nesse ambiente para manter a carta do golpe sobre a mesa. Se não houver reação à altura, ele continuará a avançar.
No palanque montado na Esplanada, o presidente ainda anunciou a convocação do Conselho da República, que se reúne para discutir a adoção de medidas excepcionais como a decretação de estado de sítio. O factoide durou poucas horas, mas serviu para eletrizar a militância governista.
Os patriotas de Bolsonaro não querem soluções para os problemas reais do país, como a inflação, o desemprego e a fome. O que continua a hipnotizá-los é a pregação messiânica contra o “sistema”, o comunismo e outros inimigos imaginários.
O discurso contra a corrupção, que embalou a campanha de 2018, já ficou definitivamente para trás. Isso explica a presença de um sorridente Fernando Collor no hasteamento da bandeira no Alvorada. E a tietagem ao ex-presidiário Fabrício Queiroz na marcha golpista de Copacabana.
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