quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Supremo dá banana para Queiroga ao manter adolescente na fila de vacinação



Quarto ministro da Pandemia na gestão Bolsonaro, Marcelo Queiroga anunciou uma depravação em Brasília —o veto à vacinação de adolescentes— e foi exibir sua obscenidade em Nova York, ao lado do chefe. Antes mesmo do retorno do capitão e de sua comitiva, o Supremo Tribunal Federal deu uma banana para Queiroga, autorizando governadores e prefeitos a manter a rapaziada com mais de 12 anos na fila. Infectado pelo coronavírus, Queiroga não pôde embarcar no avião presidencial. Teve de ficar de molho nos Estados Unidos.

Em resposta a uma ação movida por cinco partidos políticos, o ministro Ricardo Lewandowski anotou em seu despacho que o plenário do Supremo já decidiu que os "entes federados" dispõem de "competência concorrente" para agir no combate à pandemia. Lembrou, de resto, o óbvio: decisões sobre a vacinação devem ser escoradas na ciência, não em argumentos esboçados em cima do joelho.

Pressionado por Bolsonaro na semana passada, Queiroga escorou o recuo na imunização dos adolescentes na alegação de que foram detectados cerca de 1.500 "eventos adversos" num universo de 3,5 milhões de jovens vacinados.

Como a desculpa soou esfarrapada, o ministro levou à mesa um cadáver. Alegou que entre as possíveis adversidades estaria uma jovem de 16 anos que morreu em São Bernardo do Campo depois de se vacinar. O governo de São Paulo e a Anvisa atestaram que a garota morreu de uma doença rara. Nada a ver com a vacina.

Queiroga ficou em situação tão precária quanto a de Bolsonaro que, no ano passado, tratara como evidência de insucesso da CoronaVac a morte de um voluntário que havia cometido suicídio. A despeito do vexame, o ministro manteve o veto à imunização dos adolescentes. Mas atualizou a desculpa. Passou esgrimir a tese segundo a qual é preciso priorizar a vacinação dos maiores de 18 anos.

Na prática, Queiroga reconheceu que mentia quando trombeteou que sobravam vacinas no Brasil. Na verdade, faltam ao redor do país vacinas da AstraZeneca para a segunda dose. Para completar o ciclo de imunização, espetam-se nos braços de adultos aflitos doses da Pfizer, a mesma vacina recomendada pela Anvisa para os adolescentes. Daí o lero-lero de Queiroga.

A banana que o Supremo deu para Queiroga não é senão uma outra versão do gesto exibido pelo ministro ao erguer o dedo médio para os desafetos que azucrinavam Bolsonaro nas ruas de Nova York. O ministro estará livre do coronavírus após cumprir quarentena de duas semanas. Mais difícil será livrar-se do vírus do bolsonarismo.

O gesto de Queiroga para os manifestantes equivale ao velho e bom "vai se f...". Coisa irrealizável e incompatível. De que imaginável maneira alguém poderia praticar a autofornicação, mesmo sendo contorcionista? De que modo alguém poderia considerar compatível com a função de ministro da Saúde um sujeito que se diz médico e não consegue perceber que, por trás do jaleco, deve haver uma noção qualquer de decoro?

A decisão do Supremo terá efeitos relativos, pois governadores e prefeitos já tinham dado uma banana para Queiroga, mantendo os adolescentes na fila da vacinação. O ministro ainda não notou, mas foi desligado da tomada por estados e municípios.

Administrações anteriores, marcadas por perversões e desvios, habituaram os brasileiros a conviver com um tipo específico de governo: o ruim. A gestão Bolsonaro expõe outro modelo de governo: o muito pior. Queiroga virou parte da depravação.

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