O futuro, como se sabe, a Deus pertence. Mas a dinastia Bolsonaro vive desde logo a síndrome do que está por vir. Pai e filhos tornaram-se clientes de caderneta do Judiciário. Num dia em que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal adiou o julgamento sobre o foro privilegiado do Zero Um Flávio no caso da rachadinha estadual, veio à luz a notícia de que a Justiça quebrou os sigilos bancário e fiscal do Zero Dois Carlos no inquérito que apura a rachadinha municipal. A dupla segue um vício introduzido no seio familiar pelo próprio Bolsonaro. Numa evidência de que quem sai aos seus não endireita, os filhos imitam o pai na prática de embolsar parte do salário dos assessores.
Os Bolsonaro consolidam-se como uma organização familiar cujo futuro está sub judice, pendente de apreciação judicial. Tomado pelas pendências que acumula no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro tem a aparência de um delinquente em série. Acumula pelo menos sete processos. Quatro no Supremo, onde correm as investigações sobre aparelhamento da PF, prevaricação no caso da vacina Covaxin, ataques às urnas eletrônicas e vazamento de inquérito sigiloso. Outros três no TSE, onde tramitam o inquérito das mentiras sobre urnas eletrônicas e um par de pedidos de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.
A rachadinha no gabinete de Flávio resultou numa denúncia em que o primogênito é acusado de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Carlos arrasta pela conjuntura um inquérito que prenuncia a repetição da trajetória do irmão. Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, é alvo de uma investigação preliminar sobre a utilização de R$ 150 mil em dinheiro vivo na compra de dois apartamentos no Rio. Jair Renan, o Zero Quatro, é investigado pelo Ministério Público Federal em Brasília sob a suspeita de cometer o crime de tráfico de influência ao abrir a maçaneta de ministros para empresários. Os Bolsonaro revelam-se uma família dura de roer.
Dias atrás, o presidente Bolsonaro previu três alternativas para o seu futuro: "Estar preso, ser morto ou a vitória." Apressou-se em esclarecer que "a primeira alternativa, preso, não existe." Se o Judiciário fosse um Poder confiável, Bolsonaro e seus filhos talvez não abusassem tanto da sorte, confiando menos na Providência Divina.
Por Josias de Souza
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