terça-feira, 21 de setembro de 2021

Jair Renan é mais um que é a cara do pai, cuspido e escarrado. Apuração já!


Jair Renan na loja de armas e a legenda que decidiu fazer em seu vídeo, É claro que isso caracteriza ameaça Imagem: Reprodução

No outro texto desta manhã, trato de questões que, embora aparentemente periféricas, aparentemente sem grande importância, têm enorme relevância porque são sintomas de coisas bem mais sérias. Atenção! Jair Renan, o dito filho "Zero Quatro" do presidente, pode até aparecer, vamos dizer, hipossuficiente do ponto de vista intelectual. Mas não é. Ou a CPI da Covid intima este rapaz a depor — e é claro que ele vai, correndinho, pedir penico ao Supremo, que seu pai gostaria de tratorar — ou estará sendo condescendente com um ato delinquente. Mais: é preciso que o Ministério Público e a Polícia Federal sejam acionados.

Circula em todo canto o vídeo que este rapaz gravou numa loja de armas. O texto está à altura da massa cinzenta que seu crânio agasalha. Diz, com aquele seu jeito de garotão maroto de condomínio:
"Bom dia, rapaziada. Então, vocês aí, o melhor jeito de acordar, tomando um suquinho, comendo um pão de queijo e visitando a loja de um grande amigo meu: Júnior. Sabe o que é que cara vende? Arma!"

E alguém afirma ao fundo: "Brinquedo".

E Jair Renan repete: "Brinquedo". E solta um riso que simula algo tétrico. Na legenda do vídeo, escreve sobre a imagem de armas expostas: "Aloooo, CPI. Kkkkk".

"KKKK" uma ova! Trata-se de uma ameaça. Imaginem se alguém tido como adversário do pai dele exibe armas num vídeo com um "Alô, Bolsonaro". Alguma dúvida de que Anderson Torres, ministro da Justiça, mandaria imediatamente a Polícia Federal abrir uma investigação?

Mais: não se cuida de falar de ameaça indireta. É direta mesmo. O fato de ele não falar algo como "CPI merece ser tratada a bala" não quer dizer que não tenha emitido a uma Comissão de Inquérito, fração do Parlamento brasileiro, uma mensagem hostil. E não o fez com chocolates, picolé ou chiclete. Mas com pistolas.

A CPI discute a convocação de Jair Renan. Tem de acontecer. Mas não só: é preciso que os senhores senadores representem imediatamente ao Ministério Público Federal e peçam investigação à Polícia Federal.

Quem sai aos seus dá continuidade à estirpe.

DE RESTO, ELE TEM MOTIVOS
É claro que Jair Renan tem motivos para estar chateado com a CPI. Seu amigão, o lobista Marconny Albernaz de Faria, que o ajudou a abrir sua empresa -- sob investigação na PF --, está enrolado na comissão. As relações de Farias com Maria Cristina do Valle levaram à convocação da mãe do Zero Quatro, ainda sem data.

A advogada é investigada ainda no caso da rachadinha no gabinete de outro filho de Bolsonaro: o vereador Carlos, o Zero Dois. Mas isso está sob a órbita do Ministério Público do Rio e nada tem a ver com a CPI.

O pai de Jair Renan passou 28 anos a dizer delinquências na Câmara que ofendiam as leis, o decoro, a ciência e os direitos humanos. Era tratado como um inimputável. Elegeu, no percurso, três filhos. Juntos, os Bolsonaros viraram um sucesso imobiliário. E tudo parecia de bom tamanho para eles.

Desequilíbrios vários nas ecologias política, legal e moral o levaram ao topo. E agora seu ministro da Saúde está lá em Nova York a exibir o dedo do meio àqueles que protestam.

Justiça se faça: Jair Pai parecia ainda mais abobado do que Jair Renan. Deu no que deu. De declaração criminosa em declaração criminosa, escalou a Presidência.

Destaco, ademais, a absoluta gratuidade do vídeo. Sim, diz-se que esse rapaz é um "influencer". Gente assim pode ganhar muito dinheiro fazendo propaganda indireta disso ou daquilo. "Ah, ele estava apenas ganhando uns trocos para anunciar a loja de armas"...

Fosse assim, a referência à CPI seria ainda mais despropositada, não?

E não resisto a voltar ao texto. Para Jair Renan, o melhor jeito de acordar é tomar um suquinho, comer um pão de queijo e visitar uma loja de armas.

A seu modo, Jair Bolsonaro é o educador mais eficaz que conheço. Como diz o povo, seus filhos são mesmo a cara do pai. Cuspidos e escarrados.

Por Reinaldo Azevedo

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