Jair Renan na loja de armas e a legenda que decidiu fazer em seu vídeo, É claro que isso caracteriza ameaça Imagem: Reprodução |
No outro texto desta manhã, trato de questões que, embora aparentemente periféricas, aparentemente sem grande importância, têm enorme relevância porque são sintomas de coisas bem mais sérias. Atenção! Jair Renan, o dito filho "Zero Quatro" do presidente, pode até aparecer, vamos dizer, hipossuficiente do ponto de vista intelectual. Mas não é. Ou a CPI da Covid intima este rapaz a depor — e é claro que ele vai, correndinho, pedir penico ao Supremo, que seu pai gostaria de tratorar — ou estará sendo condescendente com um ato delinquente. Mais: é preciso que o Ministério Público e a Polícia Federal sejam acionados.
Circula em todo canto o vídeo que este rapaz gravou numa loja de armas. O texto está à altura da massa cinzenta que seu crânio agasalha. Diz, com aquele seu jeito de garotão maroto de condomínio:
"Bom dia, rapaziada. Então, vocês aí, o melhor jeito de acordar, tomando um suquinho, comendo um pão de queijo e visitando a loja de um grande amigo meu: Júnior. Sabe o que é que cara vende? Arma!"
E alguém afirma ao fundo: "Brinquedo".
E Jair Renan repete: "Brinquedo". E solta um riso que simula algo tétrico. Na legenda do vídeo, escreve sobre a imagem de armas expostas: "Aloooo, CPI. Kkkkk".
"KKKK" uma ova! Trata-se de uma ameaça. Imaginem se alguém tido como adversário do pai dele exibe armas num vídeo com um "Alô, Bolsonaro". Alguma dúvida de que Anderson Torres, ministro da Justiça, mandaria imediatamente a Polícia Federal abrir uma investigação?
Mais: não se cuida de falar de ameaça indireta. É direta mesmo. O fato de ele não falar algo como "CPI merece ser tratada a bala" não quer dizer que não tenha emitido a uma Comissão de Inquérito, fração do Parlamento brasileiro, uma mensagem hostil. E não o fez com chocolates, picolé ou chiclete. Mas com pistolas.
A CPI discute a convocação de Jair Renan. Tem de acontecer. Mas não só: é preciso que os senhores senadores representem imediatamente ao Ministério Público Federal e peçam investigação à Polícia Federal.
Quem sai aos seus dá continuidade à estirpe.
DE RESTO, ELE TEM MOTIVOS
É claro que Jair Renan tem motivos para estar chateado com a CPI. Seu amigão, o lobista Marconny Albernaz de Faria, que o ajudou a abrir sua empresa -- sob investigação na PF --, está enrolado na comissão. As relações de Farias com Maria Cristina do Valle levaram à convocação da mãe do Zero Quatro, ainda sem data.
A advogada é investigada ainda no caso da rachadinha no gabinete de outro filho de Bolsonaro: o vereador Carlos, o Zero Dois. Mas isso está sob a órbita do Ministério Público do Rio e nada tem a ver com a CPI.
O pai de Jair Renan passou 28 anos a dizer delinquências na Câmara que ofendiam as leis, o decoro, a ciência e os direitos humanos. Era tratado como um inimputável. Elegeu, no percurso, três filhos. Juntos, os Bolsonaros viraram um sucesso imobiliário. E tudo parecia de bom tamanho para eles.
Desequilíbrios vários nas ecologias política, legal e moral o levaram ao topo. E agora seu ministro da Saúde está lá em Nova York a exibir o dedo do meio àqueles que protestam.
Justiça se faça: Jair Pai parecia ainda mais abobado do que Jair Renan. Deu no que deu. De declaração criminosa em declaração criminosa, escalou a Presidência.
Destaco, ademais, a absoluta gratuidade do vídeo. Sim, diz-se que esse rapaz é um "influencer". Gente assim pode ganhar muito dinheiro fazendo propaganda indireta disso ou daquilo. "Ah, ele estava apenas ganhando uns trocos para anunciar a loja de armas"...
Fosse assim, a referência à CPI seria ainda mais despropositada, não?
E não resisto a voltar ao texto. Para Jair Renan, o melhor jeito de acordar é tomar um suquinho, comer um pão de queijo e visitar uma loja de armas.
A seu modo, Jair Bolsonaro é o educador mais eficaz que conheço. Como diz o povo, seus filhos são mesmo a cara do pai. Cuspidos e escarrados.
Por Reinaldo Azevedo
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