Na montagem, o novo coronavírus vira a sombra de Bolsonaro aonde quer que vá. E a reprodução indecente feita por Marcelo Queiroga Imagem: Reprodução; Montagem |
Marcelo Queiroga, o ministro da Saúde do Dedo do Meio, está com Covid-19. Ficará por 14 dias recluso em Nova York. Permanecer retido num hotel de luxo, a um telefonema de assistência médica especializada, com o serviço da embaixada pronto a socorrê-lo, é infinitamente mais do que tiveram milhares de mortos do negacionismo oficial, que mostrou a fuça na ONU nesta terça. Todo mundo viu e ouviu o que todo mundo viu e ouviu. A repercussão não poderia ter sido pior mundo afora e cá entre nativos — com as exceções conhecidas. Talvez o abusado deva exibir o dedo para o coronga...
Imaginem: o ministro da Saúde que acompanhava Bolsonaro, o sem-vacina (para todos os efeitos aos menos) —, estava infectado. É bem possível que já tenha viajado nessa condição. Em Nova York, esteve com graúdos que se encontraram com outros. Será preciso fazer o "Rastreamento Queiroga". Volto ao ponto mais tarde.
Não. Não pensem que o doutor se emendou. Faz sentido. Imorais, aéticos e indecentes também ficam doentes. Os patógenos não têm pruridos: "Ah, nem eu quero proliferar em você". Até Queiroga pega!
Já com a notícia de sua doença circulando, o ministro da Saúde republicou nos "stories" do seu perfil no Instagram a mensagem de uma "bolsomina" -- ao menos era o que sugeriam o nome a o retrato. Com essa gente, nunca se sabe. O texto vomita a seguinte estupidez, em caixa alta:
"QUE IRONIA! MINISTRO QUEIROGA SEGUIU TODOS OS PROTOCOLOS, VACINOU COM A CORONAVAC, USA MÁSCARA O TEMPO INTEIRO E FOI CONTAMINADO. O PRESIDENTE NÃO SE VACINOU, NÃO USA MÁSCARA, ESTAVA AO LADO DELE E NÃO PEGOU.MELHORAS MINISTRO!"
Entenderam? O médico Queiroga acata um texto negacionista que, de resto, atribui a Bolsonaro virtudes quase sobre-humanas. Como resta evidente, a mensagem sugere que é melhor e mais seguro ficar longe de máscaras e vacinas.
O ministro deveria passar uma descompostura na sua admiradora. Mas faz o contrário. Esse é o cara que decidiu suspender, sem motivos, a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos. Já foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia!!!
Na Saúde, tem se notabilizado por duas coisas: pela obediência sabuja a Bolsonaro, mesmo quando este subverte a ciência, e por usar jatinhos da FAB, ocasião em que leva a tiracolo mulher e filhos. Sobrando espaço, dá uma caroninha a outras cabeças coroadas da República.
Viu e ouviu o chefe a mandar a ciência às favas na ONU ao fazer a defesa do tratamento precoce. Aplaudiu. Finge ser esse um assunto político, que não lhe diz respeito. Ele só se zanga quando seu amor é contestado. Então resolve exibir os dedos do meio. E pensar que conseguiria fazer Pazuello parecer um tantinho menos indecoroso.
O FATOR QUEIROGA DE CONTÁGIO
Foto de Queiroga, daquelas para mostrar para os primos, o flagram circulando pela ONU. Acompanhou Bolsonaro, na segunda, na conversa com Boris Johnson, que esteve com John Biden na terça. Informa o Estadão: "Ministros com quem Queiroga conviveu de maneira próxima nos últimos dias, como o chanceler brasileiro, Carlos França, e o titular do Meio Ambiente, Joaquim Leite, também devem ser monitorados. Os dois tiveram reuniões nesta terça-feira com o alto escalão do governo Biden. França se reuniu com o secretário de Estado, Antony Blinken, e Leite esteve com o enviado especial para o clima, John Kerry."
Com um mínimo de pudor, Queiroga teria ignorado a mensagem de sua admiradora. Com um tantinho mais, teria respondido à moça que assintomáticos podem contaminar pessoas. E notem que a peça indigna ainda faz carga contra a Coronavac.
O governo brasileiro está pronto para espalhar vírus e indignidade mundo afora.
Um amigo brincou no Zap: "Xiii, Reinaldo, eles começaram a ser acompanhados também pela má sorte".
Respondi: "Não é isso, não, meu caro! Eles começam a ser perseguidos pelo mau pensamento, tornado uma política".
O Brasil tendo um pouco de sorte — ops! De bom pensamento, quis dizer ... —, essa gente toda vai parar na cadeia.
UMA TRADIÇÃO
Lembram-se do "Surubão do Vírus" em março de 2020?
No dia 7 daquele mês, Jair Bolsonaro e comitiva viajaram para a Flórida para se encontrar com Donald Trump, então presidente dos EUA. Um bate-e-volta. O americano ofereceu um jantar ao brasileiro no restaurante do resort Mar-a-lago, de sua propriedade. Teriam conversado sobre a "democracia na Venezuela"...
No retorno ao Brasil, o avião despejou, no dia 11, a enormidade de 22 contaminados com Covid-19 — o 23º ficou nos EUA. Relembro seus respectivos nomes, com os cargos de então:
- Marcelo Thomé da Silva de Almeida, presidente da Federação de Indústrias de Rondônia;
- Major Mauro César Barbosa Cid, ajudante de ordens do presidente;
- Coronel Gustavo Suarez da Silva, diretor adjunto do Departamento de Segurança do GSI;
- Filipe Martins, assessor especial da Presidência;
- Embaixador Carlos França, chefe do cerimonial da Presidência;
- Sergio Segovia, presidente da Apex;
- Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia;
- Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Daniel Freitas, deputado federal;
- Flavio Roscoe, presidente da Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg);
- Marcos Troyjo, secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia;
- Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI);
- Fabio Wajngarten, secretário de Comunicação da Presidência da República;
- Nelsinho Trad (PSD-MS), senador;
- Nestor Forster, encarregado de negócios do Brasil nos Estados Unidos (não veio para o Brasil);
- Samy Liberman, secretário Especial Adjunto de Comunicação Social da Presidência;
- Francis Suarez, prefeito de Miami;
- Sérgio Lima, publicitário que trabalha com a família Bolsonaro na criação do partido Aliança pelo Brasil;
- Karina Kufa, advogada de Jair Bolsonaro;
- quatro integrantes da equipe de apoio da comitiva
Naquele mesmo dia 11, a Organização Mundial da Saúde declarou a existência de uma pandemia de Covid-19.
Havia apenas 69 casos — quase um terço pertencia à comitiva do presidente —, e Bolsonaro dava de ombros para a doença. Trump, seu amigão, também.
Até então, ninguém havia morrido de Covid-19 no Brasil. O primeiro óbito aconteceria justamente no dia seguinte à chegada do avião: 12 de março.
O vírus acompanha Bolsonaro como uma sombra. E ele é a sombra do Brasil.
Por Reinaldo Azevedo
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