quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Prevent Senior: Batista Jr. tem de sair; que CPI convoque Parrillo, o dono


Battista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior, e Fernando Parrillo, o CEO e dono do plano de saúde e da rede Sancta Maggiore Imagem: Pedro França/Agência Senado; Reprodução

A Prevent Senior — e, pois, os hospitais da rede Sancta Maggiore — não podem continuar sob o atual comando. Quando menos, seu diretor-executivo, o médico Pedro Benedito Batista Júnior, tem de ser afastado imediatamente. E essa é apenas a primeira providência. O plano de saúde e os hospitais têm de ser submetidos a uma devassa. E, como resta evidente, é preciso que entrem em campo a Agência Nacional de Saúde Suplementar e o Ministério Público Federal. Batista Júnior saiu como investigado da CPI. MPF e agência não precisam esperar as conclusões da comissão — que, ademais, parece obrigada a convocar Fernando Parrillo, o CEO fundador e controlador do empreendimento.

É preciso que fique claro que, desde o início da CPI, o país ouviu nesta quarta a confissão mais grave. O diretor-executivo confirmou, ainda que ele rejeite estas palavras, que plano e hospital manipulavam os prontuários dos pacientes — manipulação que se estendia aos atestados de óbito — para omitir os casos de Covid-19. Segundo o loquaz e suave diretor, depois de 14 dias de internação ou de 21 de UTI, se pacientes continuassem nas unidades da rede, o código que identificava a Covid-19 desaparecia para dar lugar aos de outras moléstias.

É evidente que isso, do ponto de vista médico, é o que é: uma fraude técnica. Desconfio que o Conselho Federal de Medicina, mais uma vez, vá ficar mudo. Essa tem sido a rotina. Cabe a pergunta óbvia: quantas mortes de pessoas originalmente internadas com Covid-19 foram omitidas, num caso aberrante de subnotificação? Uma diretoria-executiva que defende esse procedimento é capaz de fazer adicionalmente o quê? E Batista Júnior o defendeu na comissão e na gravação de uma conversa, em tom que parece de ameaça, com um médico inconformado.

PARCERIA
Não fossem as dezenas de outros motivos, num trabalho extremamente virtuoso, a CPI já se justificaria por ter arrancado essa confissão do chefão da Prevent Senior/Sancta Maggiore. E que se note: conversas que vieram a público sugerem que aquilo a que o doutor chamou de "estudos observacionais" -- o uso de drogas sabidamente ineficazes contra a Covid-19 e potencialmente danosas para os pacientes -- eram conduzidos em parceria estreita com membros do tal "Gabinete Paralelo" da Saúde.

Jair Bolsonaro, o que levou o negacionismo à abertura da Assembleia Geral da ONU, usava os números do Sancta Maggiore para anunciar a efetividade do tal kit preventivo porque, segundo dizia, havia um número menor de mortes entre os que eram submetidos ao tratamento. Agora sabemos a natureza da máscara.

A manipulação do atestado de óbito resta evidente no prontuário que veio a público do médico Anthony Wong, que disse bobagem em penca em conversas com sabujos do governo e certamente levou muita gente a fazer escolhas imprudentes e perigosas. Como já disse, em certa medida, foi vítima de sua concepção de mundo. E isso era lá com ele. Mas a questão, insista-se, é de saúde pública. O prontuário de Wong, revelado pela repórter Ana Clara Costa, da revista Piauí, parece história de terror. A médica que aparece como responsável por sua internação é a buliçosa e onipresente, no gabinete nos desatinos, Nise Yamaguchi. E, como está demonstrado, o atestado de óbito de Wong omite a Covid-19.

Um dossiê que veio a público — e aquelas denúncias precisam ser investigadas — indicam a manipulação sistemática de dados e a imposição aos médicos do uso de medicamentos comprovadamente ineficazes. A parceria com o governo federal parece demonstrada. Negócios? Também eles! O plano ganhou novos clientes. Contava, afinal, com um garoto-propaganda e tanto.

FECHAR A PREVENT SENIOR?
Escrevi no Twitter que a Prevent Senior e a rede Sancta Maggiore não podem ser submetidos ao método lavajatista de resolução de problemas ou de punição de malfeitos reais ou supostos. O que quero dizer com isso? Os maus administradores e médicos, aqueles que cometeram crimes, os que se desbordaram de suas funções e da ética têm de ser punidos, mas a empresa tem de sobreviver. Ou milhares de pessoas sofrerão as consequências. Que se faça tudo com o devido cuidado.

Pergunto: depois da confissão de Batista Junior, como ele pode continuar como diretor-executivo de um serviço que é regulado por uma agência federal? Tem de ser afastado já — até em benefício da empresa. E falo aqui da empresa como ente social, não dos negócios do sr. Fernando Parrillo, o sócio-controlador da Prevent Senior. A propósito: a CPI, depois desta quarta, está obrigada a convocá-lo, não? Pergunta óbvia e primeira: ele tinha conhecimento da prática confessada por seu subordinado?

Não! A Prevent Senior, como empresa, como ente social, não pode fechar. Instalações, equipamentos, profissionais de saúde... O conjunto todo, enfim, tem de ser usado em benefício dos brasileiros que são seus clientes e usuários. Mas é preciso que isso tenha uma gestão competente, eficaz, moral. Levará tempo até que tudo seja devidamente investigado. Mas e enquanto isso? A Agência Nacional de Saúde Suplementar acredita que a empresa está sob condução segura, depois da confissão ouvida pela CPI?

"Ah, olhem o Reinaldo antecipando culpas..." De maneira nenhuma! Estou lidando com fatos. Pacientes entravam vivos com Covid-19 no Sancta Maggiore e saiam de lá mortos como se não tivessem tido a doença nos registros públicos. O código era alterado, e a causa original da morte desaparecia do atestado de óbito.

O que parece ser, obviamente, uma fraude era uma praxe, uma orientação, uma determinação do comando. Se essa gente vendesse parafuso, seria banida do mercado porque os ditos-cujos iriam se mostrar impróprios. Mas vende saúde. Cliente morto não paga. Mas os vivos sim! E se trata de uma atividade sob regulação.

Não quero que a Prevent Senior feche. Quero que se emende, em benefício dos pacientes. E que os responsáveis paguem por suas faltas e crimes.

Por Reinaldo Azevedo

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