O cenário político e eleitoral segue catastrófico para o presidente Jair Bolsonaro. Caso ele não consiga revertê-lo, e o tempo está encurtando, o golpe seria mesmo a única maneira de se manter no poder. Mas será que as Forças Armadas a tanto se atreveriam? No prognóstico do próprio presidente, seu futuro acena com uma de três alternativas: cadeia, morte ou vitória. A julgar pela mais recente pesquisa Genial/Quaest, é bom ele começar a ver onde é que há banho quente — aqui não se torce pela morte de ninguém. Nos cinco cenários testados, o petista Luiz Inácio Lula da Silva poderia vencer a disputa no primeiro turno — ainda que dentro da margem de erro.
É a terceira rodada da pesquisa mensal Genial/Quaest, iniciada em julho. As coisas só pioram para o golpista — e, como se nota, o golpismo não ajuda. O levantamento ouviu 2 mil pessoas por meio de questionário presencial entre os dias 26 e 29 de agosto. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.
PRIMEIRO TURNO
No voto espontâneo, quando não se apresentam os nomes de candidatos, Lula permanece com 23% das intenções de voto. Jair Bolsonaro oscilou três pontos para baixo em relação ao mês passado e tem agora 15%. Ciro Gomes (PDT) segue com 1%, e 2% citaram outros nomes ou disseram que não votam em ninguém. Os indecisos são 58%.
Quando, no entanto, se apresentam os nomes -- e a disputa real, como se sabe, conta com candidatos definidos, o quadro muda bastante. Vejam os cenários testados:
CENÁRIO UM
Lula (PT) - 46%
Bolsonaro (Sem partido) - 26%
Ciro Gomes (PDT) - 8%
João Doria (PSDB) - 6%
Rodrigo Pacheco (PSD)* - 1%
Ninguém - 7%
Indecisos - 5%
(*) Notem: Pacheco, presidente do Senado, pertence ao DEM. Mas se especula que possa migrar para o PSD, hipótese em que poderia se candidatar.
O "Ninguém" aí compreende votos brancos, nulos e nenhum dos candidatos. Esses votos são considerados inválidos para definição do resultado.
Somados todos os votos válidos, menos os de Lula — e estou incluindo aí os 5% de indecisos —, chega-se exatamente a 46%, que é o número obtido pelo petista. Dado que, por óbvio, um percentual de indecisos certamente votaria no ex-presidente, é evidente a possibilidade, nesse cenário, de ele vencer no primeiro turno.
CENÁRIO DOIS
Lula - 47%
Bolsonaro - 26%
Ciro - 9%
Doria - 6%
Ninguém - 8%
Indecisos - 5%
Nesse caso, tem-se apenas um nome do que se convencionou chamar "terceira via": Doria. Os votos válidos, incluindo os indecisos, ficam um ponto percentual abaixo do índice alcançado por Lula: 46% a 47%. Vale a mesma observação: parte dos que ainda não fizeram a escolha certamente migrará para o petista. Nesse cenário, cresce a possibilidade de sua vitória no primeiro turno. Cumpre lembrar sempre da margem de erro.
CENÁRIO TRÊS
Lula - 46%
Bolsonaro - 26%
Ciro - 8%
Doria - 5%
Simone Tebet (MDB) - 2%
Ninguém - 8%
Indecisos - 5%
A senadora emedebista Simone Tebet (MS), que tem se destacado na CPI da Covid-19, coloca-se como uma pré-candidata do MDB. Também nessa hipótese, a soma chega aos mesmos 46% de Lula.
CENÁRIO QUATRO
Lula - 44%
Bolsonaro - 25%
Ciro - 6%
Doria - 3%
Datena (PSL) - 7%
Mandetta (DEM) - 2%
Simone Tebet - 1%
Ninguém - 6%
Indecisos - 5%
Ainda que a possibilidade de vitória de Lula já no primeiro turno estivesse dentro da margem de erro, esse seria um cenário mais complicado: os demais votos (exceto, claro, os que optarão pelos inválidos) somam 49% (entre 46% e 52%) contra 44% de Lula (entre 43% e 47%).
Observo, no entanto, que essa configuração me parece bastante improvável.
CENÁRIO CINCO
Lula 44%
Bolsonaro 24%
Ciro - 7%
Datena - 7%
Mandetta - 2%
Eduardo Leite - 2%
Simonet Tebet - 1%
Ninguém - 7%
Indecisos - 5%
Eis outro cenário improvável, mas vá lá. Nesse caso, os demais votos somam 48% contra os 44% de Lula, permanecendo a possibilidade de vitória no primeiro turno, ainda que com mais dificuldades do que nos cenários 1, 2 e 3.
SOBRE A TERCEIRA VIA
Se os números da pesquisa espontânea podem animar um candidato da terceira via -- afinal, 58% ainda não fizeram a sua escolha --, a realidade pode ser desanimadora para quem ambiciona essa posição diante da seguinte pergunta: "Nas eleições de 2022, quem você prefere que vença?" Eis a resposta:
- Lula: 45% (no mês passado, 42%)
- Bolsonaro: 23% (há um mês, 26%)
- Nem Bolsonaro nem Lula: 25% (antes, 28%)
- Não sabe/Não respondeu: 7%
CONHECIMENTO, REJEIÇÃO E VOTO
Os índices casados de conhecimento e rejeição da pesquisa Genial/Quaest evidenciam que a batalha de Bolsonaro e também dos candidatos a candidato da terceira via não será fácil. Vejam os índices daqueles que dizem conhecer, sim, o postulante, mas não votar nele de jeito nenhum:
- Bolsonaro: 62%
- Doria: 57%
- Ciro: 53%
- Datena: 46%
- Mandetta: 41%
- Lula: 40%
- Rodrigo Pacheco: 31%
- Eduardo Leite: 28%
- Simone Tebet: 14%
E há aqueles que conhecem, sim, o pré-candidato e dizem que votariam ou poderiam votar nele. E aqui o petista dispara:
- Lula: 58%
- Bolsonaro: 34%
- Ciro: 33%
- Datena: 33%
- Doria: 20%
- Mandetta:13%
- Rodrigo Pacheco: 7%
- Eduardo Leite: 10%
- Simone Tebet: 5%
Alguns nomes que aparecem como postulantes à Presidência são quase desconhecidos do eleitorado. Eis o índice de desconhecimento:
- Simone Tebet: 80%
- Eduardo Leite: 60%
- Rodrigo Pacheco: 60%
- Mandetta: 43%
- Doria: 19%
- Datena: 18%
- Ciro: 11%
- Bolsonaro: 1%
- Lula: 1%
CONCLUSÕES SOBRE O PRIMEIRO TURNO NESSA PESQUISA
- Cresceu a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno;
- a soma dos que votam e poderiam votar no petista chega perto de 60% (58%);
- a estridência golpista de Bolsonaro tornou pior a sua situação eleitoral;
- presidente é hoje o campeão do conhecimento com rejeição:62%;
- os nomes mais prováveis como candidatos da terceira via, até agora, não aconteceram;
- Doria e Ciro têm índices altos de conhecimento acompanhado de rejeição:57% e 53% respectivamente;
- Datena aparece como um outsider com número expressivo no primeiro turno, mas 46% dizem saber quem ele é e o rejeitam, mas empata com Ciro nos quesitos "sabe e votaria ou poderia votar": 33%;
- Simone Tebet, Eduardo Leite e Rodrigo Pacheco são campeões do "desconhecimento": respectivamente, 80%, 60% e 60%. Pergunta-se: é viável um candidato que terá o desafio de, primeiro, apesentar-se ao eleitor para, depois, tentar conquistar o seu voto?
Esses são os números de hoje dessa pesquisa. Estando certos, mesmo os dados do primeiro turno — HOJE, REITERE-SE — apontam que será difícil impedir que Lula volte à Presidência. Há, claro, a promessa de "golpe" do malucão... Mas acho que não dará certo.
A única boa notícia para os demais postulantes é que ainda faltam 13 meses para a eleição.
Por Reinaldo Azevedo
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