A grande estrela do relatório final da CPI da Covid será Bolsonaro. O grupo de juristas que assessora a comissão, sob a coordenação do ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, atribuiu ao presidente pelo menos sete crimes.
Vai abaixo a relação:
1) Crime de responsabilidade, aquele que, em tese, leva ao impeachment;
2) Crime de epidemia;
3) Crime de prevaricação;
4) Crime contra a humanidade;
5) Infração de medida sanitária;
6) Charlatanismo;
7) Incitação ao crime.
Essa coleção de imputações é suficiente para transformar qualquer biografia em prontuário. Ironicamente, Bolsonaro se encarregou de produzir a maioria das provas que o incriminam.
Políticos convencionais escamoteiam os seus pecados. Mas Bolsonaro é um transgressor inusual e didático. Abdicou dos métodos tradicionais de ocultamento.
Bolsonaro percorreu o cenário da pandemia espalhando as pistas que agora facilitam a reconstituição dos seus crimes. Agiu com inusitado espalhafato.
Num trecho do documento repassado à CPI, os juristas empilham as evidências de desrespeito à vida que Bolsonaro deixou pelo caminho.
Mencionam a promoção de aglomerações, o desapreço às máscaras, a incitação à invasão de hospitais, o combate às medidas de proteção sanitária, o estímulo ao consumo de cloroquina, a insinuação de que vacinados virariam jacarés, a postergação da compra de vacinas...
Muitas CPIs dão errado porque não conseguem provar delinquências suspeitadas. Mas a fragilidade de uma investigação parlamentar não é a única forma de medir o fracasso de uma CPI.
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid corre o risco de passar à história como a primeira CPI a fracassar por excesso de provas.
Se a blindagem de Arthur Lira e Augusto Aras garantirem a Bolsonaro a impunidade, o país assistirá ao enterro de provas vivas.
Restará ao eleitor fazer justiça com o próprio dedo, na urna eletrônica de 2022.
Por Josias de Souza
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