O Ipec, comandado por Márcia Cavallari e formado por executivos que integravam o Ibope Inteligência, divulgou pesquisa na noite desta quarta que traz as intenções de voto do eleitorado e sua avaliação sobre o governo Bolsonaro e o próprio presidente. As notícias seguem pouco auspiciosas para o negacionista que falou na Assembleia Geral e também para os postulantes a nome da tal terceira via. Vamos ver.
Foram testados dois cenários no primeiro turno. Em um deles, Lula venceria no primeiro turno bem longe da margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para menos. Em outro, menos provável, a possibilidade de vitória é mais estreita, quase no limite da margem.
O cenário em que Lula venceria no primeiro turno já foi testado em junho. Os números abaixo fazem referência, pois, à pesquisa de há três meses. Se a eleição fosse hoje, seriam estes:
- Lula (PT): oscilou de 49% para 48%
- Bolsonaro (sem partido): segue com 23%
- Ciro (PDT): de 7% para 8%
- Doria (PSDB): de 5% para 3%
- Mandetta (DEM): segue com 3%
- Nulos/Brancos: 10%
- Não sabem: 4%
Lula continua com 11 pontos à frente da soma dos demais nomes. Considere-se, de resto, que, entre aqueles que não sabem, uma parcela certamente se deslocaria também para a sua candidatura. A vitória do petista no primeiro turno, com esses nomes, se a eleição fosse hoje, estaria assegurada, segundo a pesquisa.
SEGUNDO CENÁRIO
O IPEC testou um segundo cenário, inédito para o instituto nesta configuração. Vejam os números:
- Lula: 45%
- Bolsonaro: 22%
- Ciro: 6%
- Moro (sem partido): 5%
- Datena (PSL): 3%
- Doria: 2%
- Mandetta: 1%
- Rodrigo Pacheco: 1%
- Alessandro Vieira (Cidadania): 0%
- Simonte Tebet (MDB): 0%
- Nulos/brancos: 9%
- Não sabem: 5%
Notem: os adversários somam 40%, cinco pontos a menos do que Lula. Aí, a vitória no primeiro turno já fica bem perto da margem de erro, sempre considerando que, também nesse caso, parte daqueles que não sabem — mas que são votos válidos — também poderiam escolher o petista.
O Ipec não divulgou as simulações de segundo turno. Não explicou os motivos.
DESEMPENHO DE BOLSONARO
O instituto quis saber também como os brasileiros avaliam o desempenho de Bolsonaro e o seu governo. Em fevereiro, 28% consideravam a gestão ótima ou boa; caiu para 24% em junho e chega, agora, a 22%. O "regular" caiu de 31% para 26% e chega a 23%. O governo era ruim/péssimo para 39% em fevereiro. Disparou para 49% há três meses. E chega a 53% nesta rodada.
E o jeitão como Bolsonaro administra o país? Será que está agradando? Em fevereiro, 38% aprovavam, caindo para 30% em junho, ficando, desta feita, em 28%. Atenção! Há sete meses, desaprovavam o seu "jeito meio estúpido de ser", como naquela música, 58% dos ouvidos. O número avançou para 66% em junho e alcança 68%.
Será que os brasileiros confiam no seu presidente? Em fevereiro, os crédulos eram 36%. O percentual caiu para 30% em junho e chega a 28% neste mês. Não confiavam no presidente há sete meses espetaculares 61%, avançando para 68% em junho, alcançando desta vez 69%.
Os dados falam por si. O presidente colhe o resultado de sua gestão desastrosa, de suas taras golpistas e de sua truculência retórica. É pouco provável que a pantomina estrelada na ONU tenha contribuído para melhorar os seus índices.
A ONDE ISSO TUDO NOS LEVA?
Nesta quarta, o BC elevou a taxa Selic para 6,25% -- e deve acrescentar mais um ponto no mês que vem. Especula-se que chegue a 8,5%, quem sabe mais, até o fim do ano.
O problema: a inflação não cede. É especialmente alta nos alimentos, o que pune de maneira especial os mais pobres. Segundo o Ipec, Lula oscilou de 63% para 65% na Região Nordeste; de 52% para 61% entre os que têm o ensino fundamental I e oscilou de 59% para 58% entre os com ensino fundamental II.
A elevação da taxa de juros vai comprometer ainda mais o crescimento do ano que vem — e já há quem anteveja recessão. Bolsonaro precisa desesperadamente do calote nos precatórios para ver se o Bolsa Família dá um gás à sua candidatura. Mas não se antevê um cenário dos mais otimistas para os mais pobres.
E A TERCEIRA VIA?
O tempo vai passando e..., até agora, do ponto de vista eleitoral, nada acontece. No lançamento de sua candidatura às prévias pelo PSDB, João Doria atacou com muita dureza os governos Lula e Dilma, associando-os à corrupção. Pegou um pouco mais leve com Bolsonaro, que não foi citado explicitamente.
Parece haver aí a estratégia de disputar com o atual presidente o eleitorado mais conservador, mas por intermédio do confronto com o PT, como a dizer: "Sou mais capaz do que o outro ("O Mito") de enfrentar e derrotar Lula."
Simulações de segundo turno de outros institutos não endossam a hipótese. A eleição está longe, mas nem tanto assim. A gestão de Bolsonaro é especialmente perversa com os pobres. Quando se olham os recortes da liderança do petista, a tarefa parece hercúlea. No Datafolha, Doria e Eduardo Leite marcam, por exemplo, um mísero ponto percentual no Nordeste, que representa 26% do eleitorado brasileiro.
Poder-se-ia dizer: "Mas é preciso tirar Bolsonaro do segundo turno; logo, há que se bater em Lula e no PT para acenar àquele eleitorado". Há dois óbices aí:
1- o bolsonarismo renitente é movido pelo fanatismo e é tão antitucano como antipetista;
2- há ainda algo a dizer contra Lula e o PT que os bolsoanristas ou os lavajatistas já não tenham dito com ainda mais virulência?
Os candidatos a candidato da terceira via ainda não conseguiram deixar claro aos eleitores por que querem se eleger. Até agora, têm se esmerado em dizer por que os outros dois não devem ser eleitos.
É isso o que os números revelam.
Por Reinaldo Azevedo
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