Jair Bolsonaro sempre declarou que não entende nada de economia. Por isso, encostou seu governo no Posto Ipiranga. Mas isso é coisa do passado. Num instante em que os economistas mais renomados quebram a cabeça para estimar os danos colaterais que o coronavírus produzirá, o capitão chamou de "fantasia" a turbulência que deprime os negócios e leva o mundo a flertar com uma recessão.
A "fantasia" de Bolsonaro é uma versão atualizada da "marolinha" que Lula enxergou na crise econômica de 2008. A exemplo da divindade petista, o mito do bolsonarismo também atribui a infecção de pessimismo inoculada no sistema financeiro mundial ao inimigo de sempre: a imprensa. Nas palavras de Bolsonaro, o coronavírus "não é isso tudo que a grande mídia propaga."
Deve-se a Donald Trump, não ao ministro Paulo Guedes, o curso intensivo que guindou Bolsonaro em poucas horas da condição de neófito à posição de economista de mostruário. De passagem pelos Estados Unidos, o mito jantou com Trump na noite de sábado. E passou a macaquear o discurso do seu ídolo, que também se esmera em reduzir a importância da crise.
Seguro de si, Bolsonaro desdenhou também do curto-circuito que a Arábia Saudita provocou ao medir forças com a Rússia em torno da cotação do petróleo. "Alguns da imprensa conseguiram fazer de uma crise a queda do preço do petróleo (?) É melhor cair 30% do que subir 30% do preço do petróleo. Mas isso não é crise. Obviamente, problemas na Bolsa, isso acontece esporadicamente. Como estamos vendo agora há pouco, as bolsas que começam a abrir hoje já começam com sinais de recuperação."
Num ponto, Bolsonaro tem razão. As crises na economia passam. Mal comparando, Átila também passava. O problema era a situação em que ficavam o gramado e a vegetação ao redor depois da passagem do rei dos hunos.
Por Josias de Souza
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