sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Queiroga quer opinião da tia do Zap sobre vacina



Bolsonaro pode parecer um tolo e falar como um tolo. Mas não se engane. Ele não parece, é realmente um tolo. Em sua penúltima tolice, decidiu implicar com a vacinação das crianças contra Covid. Marcelo Queiroga deu asas à asneira do chefe. Meteu-se numa operação de grande valor científico. Se tudo correr como planejado, vão à vitrine duas conclusões: 1) A tolice de Bolsonaro é mais contagiosa do que a Ômicron; 2) A diferença entre a sensatez e a estupidez é que a sensatez tem limites.

O doutor Queiroga marcou a consulta pública a respeito da vacina da criançada de 5 a 11 anos. A coisa vai atravessar os festejos do Natal e do Réveillon. Começa nesta quinta-feira (23). Termina em 2 de janeiro de 2022. Trata-se de uma inutilidade a serviço do desperdício de tempo.

A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, já concedeu registro definitivo para a vacina infantil da Pfizer. Atestou a qualidade, a segurança e a eficiência do produto. A Cetai, câmara técnica criada pelo próprio Queiroga para assessorá-lo nas questões relacionadas à imunização contra Covid, aprovou a vacinação por unanimidade.

Estudo da Fiocruz, fundação vinculada ao Ministério da Saúde, concluiu que a aplicação de vacina nas crianças é necessária e precisa começar o quanto antes. Seis das mais relevantes entidades médicas e científicas do país também se declararam a favor da vacinação. A mesma vacina está sendo aplicada em crianças de mais de uma dezena de países. Apenas nos Estados Unidos, foram mais de 7 milhões de doses.

Com todo esse respaldo científico e factual, a consulta que Queiroga realiza por pressão de Bolsonaro tem a aparência de mais uma embromação letal. Mal comparando, é como se o sujeito estivesse no centro de um incêndio e, em vez de chamar os bombeiros, abrisse uma consulta popular para debater normas de prevenção do fogo.

No caso da vacinação das crianças, Queiroga quer contrapor a opinião da tia do Zap aos estudos técnicos e científicos. Os pais, donos da palavra final nessa matéria, talvez prefiram ser orientados, não consultados. A maioria quer saber quando a vacina será comprada e o dia em que poderá levar os filhos ao posto de saúde.

Se os resíduos psíquicos de Bolsonaro fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse. A característica fundamental da dificuldade de julgamento do presidente é ter que ouvi-lo durante três anos para chegar à conclusão de que ele não tem nada a dizer sobre coisa nenhuma.

Para desassossego dos 94% de brasileiros que manifestaram ao Datafolha seu apreço pelas vacinas, o cardiologista Queiroga colocou sua formação médica à disposição da insanidade. Deve estar torcendo para que a turma do Zap prevaleça sobre a Anvisa, a câmara técnica do ministério, as entidades médicas e científicas do país, a comunidade internacional e o bom senso.

Por Josias de Souza

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