No início do governo vigorava uma superstição segundo a qual os generais convocados para comandar escrivaninhas no Planalto desarmariam as explosões do capitão Bolsonaro. Tomado pela incontinência retórica, o general Augusto Heleno, chefe do GSI, tornou-se uma evidência de que ocorreu o contrário. Certos generais bolsonarizaram-se. Há no país fome, desemprego, inflação, ameaça de recessão e uma série de ataques hackers que envergonham o setor de proteção cibernética da pasta chefiada por Heleno. Mas o general resolveu ajudar Bolsonaro a fabricar mais uma crise com o Supremo.
Falando para agentes da Abin na formatura de um curso de "Aperfeiçoamento e Inteligência", Heleno disse o Supremo "resolveu assumir uma hegemonia que não lhe pertence." Avaliou que "dois ou três ministros do STF" tentam "esticar a corda até arrebentar." Declarou que teme que Bolsonaro seja assassinado. Afirmou que injeta diariamente na veia duas doses do barbitúrico Lexotan "para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica" em resposta às decisões do Supremo. Faltou definir "atitude mais drástica."
O novo áudio de Heleno, trazido à superfície pelo repórter Guilherme Amado, do site Metrópoles, faz lembrar alucinações anteriores. Na campanha de 2018, sem Lexotan, o general dizia que o centrão era feito de ladrões. Em 2019, já sob os efeitos de tranquilizantes, defendia que Bolsonaro governasse em conexão direta com as ruas. No início de 2020, sua voz foi captada numa transmissão ao vivo reclamando da fome dos parlamentares por emendas: "Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se!"
Hoje, o general Heleno já não acha que "se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão." Passou a avaliar que fazem parte do que chama de "show da política" coisas como o orçamento secreto, a chegada do centrão ao Gabinete Civil da Presidência e a filiação de Bolsonaro ao partido do ex-preso do mensalão Valdemar Costa Neto.
Heleno revela-se capaz de tudo, exceto de enxergar no semblante de Bolsonaro a figura de um despreparado. O general ambiciona para o Brasil uma realidade venezuelana, com os militares cooptados e bem pagos, com uma Suprema Corte rendida ao imperador de plantão.
O general deveria considerar a hipótese de procurar ajuda médica. Seu caso é psiquiátrico. Talvez precise aumentar a dose de Lexotan.
Por Josias de Sousa
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