A pretexto de ironizar o jantar em que Lula e Geraldo Alckmin desfilaram juntos na noite de domingo, Bolsonaro deixou-se filmar dançando funk a bordo de uma lancha, no Guarujá. A canção tem a suavidade de um porco-espinho. Num trecho, compara mulheres de esquerda a cadelas. Os filhos do presidente e seus devotos bolsonaristas cuidaram de espalhar as imagens pelas redes sociais.
A aparência de despreocupação se desfez em outras postagens dos filhos do presidente. Carlos e Flávio reproduziram um vídeo da campanha de 2018. Nele, Alckmin declara que, "depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder", para "voltar à cena do crime." Em outro post, Eduardo perguntou por que Alckmin "se aproxima de um condenado."
Os membros da família da rachadinha confundem amnésia com consciência limpa. Esquecem de lembrar —ou lembram de esquecer— que, na mesma campanha de 2018, Bolsonaro agradeceu a Alckmin por ter "unido" em sua coligação "a escória da política". Referia-se ao centrão.
Estavam com Alckmin o PL de Valdemar Costa Neto, estrela do escândalo do mensalão; e o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, destaques do petrolão. Hoje, o PL é o partido de Bolsonaro. E o PP tomou de assalto o Gabinete Civil e o balcão das emendas. Em troca segura os pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
O ano de 2022 ainda nem começou e já exala um insuportável odor de lama. O Brasil testemunhará uma campanha eleitoral violenta e suja. As ideias dos candidatos ainda não estão claras. Po ora, a única certeza disponível é a seguinte: seja quem for o próximo presidente, o centrão estará fechado com ele.
Por Josias de Souza
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