O grande drama da pandemia é que o vírus tem incontáveis variantes. Mas a insanidade do presidente e a sabujice do ministro da Saúde são invariáveis. Ao dar boas-vindas aos viajantes não vacinados que chegam ao Brasil, o governo Bolsonaro transferiu para o Judiciário a palavra final sobre a recomendação da Anvisa de fechar as fronteiras para quem não apresentar comprovante de imunização completa.
Quando requisitou informações sobre a "inércia" das autoridades diante do avanço da variante Ômicron, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, sinalizou a intenção de reverenciar o conhecimento e a ciência no julgamento de ação movida pelo partido Rede. Ou seja, a gestão Bolsonaro pode ter marcado encontro com mais uma derrota judicial.
Falando desde a Terra plana em que escolheu viver, Bolsonaro, o presidente não vacinado, teve novos surtos de negacionismo. Comparou a exigência de vacina a uma coleira. Disse que é melhor perder a vida do que perder a liberdade. Numa evidência de que também transita pelo território do mundo plano, o doutor Marcelo Queiroga, suposto ministro da Saúde, ecoou o chefe, repetindo a mesma frase.
Bolsonaro e Queiroga demoram a perceber. Entretanto, mais de 90% dos brasileiros valorizam a vacina. Significa dizer que a maioria dos brasileiros avalia que é melhor se vacinar livremente do que ser aprisionado numa cova. Quem toma vacina prefere a companhia de outros vacinados. Caindo-lhe a ficha, o doutor Queiroga talvez perceba que às vezes é melhor perder o cargo do que perder a dignidade.
Num esforço para evitar uma decisão adversa do Supremo, o governo anunciou que exigirá dos viajantes não vacinados quarentena de cinco dias. Ao proclamar a novidade, Queiroga e o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, disseram coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Faltou explicar, por exemplo, como um país que tem dificuldades para vigiar a língua do presidente conseguirá fiscalizar o recolhimento dos potenciais transmissores da Ômicron.
Nenhum comentário:
Postar um comentário