Num instante em que o Judiciário se especializa na anulação de sentenças criminais de condenados por corrupção, a J&F Investimentos, controladora da JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista, inaugura uma nova etapa do movimento que segue o lema segundo o qual "a oligarquia unida jamais será vencida". Discute-se agora até o valor das multas que as empresas concordaram em pagar depois que seus executivos se tornaram criminosos confessos.
Em acordo de leniência assinado em 2017, nas pegadas da delação dos seus executivos, a J&F topou pagar R$ 10,3 bilhões parcelados em 25 anos. Agora, pede ao Conselho Institucional do Ministério Público que reduza a multa para R$ 1,3 bilhão, dinheiro de troco para um conglomerado que controla uma das maiores casas de carnes do planeta. O pedido será julgado nesta terça-feira. Se for atendido, a moda vai pegar.
Nos últimos seis anos, foram à grelha empresários graúdos. Políticos poderosos dos maiores partidos do país tornaram-se impotentes. Encrencaram-se três ex-presidentes vivos. A oligarquia corrupta jogava com o tempo e com as cartas dos recursos judiciais. De repente, instalou-se em pleno Supremo Tribunal Federal um forno de assar pizzas. Surgiram franquias da pizzaria noutros pontos do Judiciário.
À medida que as condenações vão sendo anuladas e os crimes começam a prescrever, surgem as perguntas embaraçosas. Por exemplo:
O que fazer com as confissões, as perícias, as multas já pagas e as que ainda estão pendentes?
A quem devolver os R$ 52 milhões encontrados num apartamento baiano? Para onde enviar os milhões repatriados de contas na Suíça?
Como desconstruir as construções feitas pela OAS e a Odebrecht no tríplex ou no sítio?
Como apagar a fita com as imagens de Rocha Loures, o ex-assessor presidencial, dando uma corridinha com a mala de dinheiro recebida do então executivo da J&F Ricardo Saud?
Onde enfiar o áudio com o achaque de R$ 2 milhões que o grão-tucano Aécio aplicou em Joesley Batista?
As sentenças podem caber no forno. Mas a roubalheira, suprapartidária e de proporções amazônicas, vaza pelas beiradas.
Por Josias de Souza
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