O Auxílio Brasil não passa, por enquanto, de uma medida provisória à espera de uma fonte de financiamento. Mas Bolsonaro e seus parceiros do centrão já utilizam o novo Bolsa Família como peça de resistência da campanha à reeleição. O pano de fundo do ato de filiação de Bolsonaro ao PL foi um enorme painel no qual o novo filiado foi apresentado como "o presidente que faz o maior programa social do mundo." Essa doce atmosfera de populismo eleitoral contrasta com o azedume que permeia o relacionamento das duas principais autoridades econômicas do governo: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Enquanto o PL envernizava a imagem de Bolsonaro como um novo pai dos pobres, Campos Neto criticava num encontro promovido pela Federação Brasileira de Bancos a forma como o Auxílio Brasil foi estruturado. "Existe uma percepção que a forma que foi feita abalou o arcabouço fiscal que existia", disse ele. Referia-se à PEC dos precatórios, que dá o calote em dívidas judiciais, fura o teto de gastos e dribla a Lei de Responsabilidade Fiscal para permitir que Bolsonaro gaste R$ 106 bilhões em 2022. Desse valor, R$ 51 bilhões financiarão os R$ 400 mensais que o presidente prometeu à clientela do antigo Bolsa Família.
Idealizador da PEC do calote, Paulo Guedes disse que a emenda constitucional "foi bastante modificada" no Congresso. Mas "ainda é essencial". Avalia que sua aprovação é "o menos ruim que pode acontecer no Brasil no momento." Campos Neto preocupa-se menos com o tamanho do desvio fiscal do que com a forma. Acha que haveria maneiras mais responsáveis de socorrer os pobres. Não está sozinho.
Muitos outros economistas avaliam que as consequências da irresponsabilidade —inflação, juros e recessão— mastigam os R$ 400 reais antes que o dinheiro chegue ao bolso dos brasileiros que Bolsonaro quer usar para alimentar sua fome de votos.
No início do seu governo, em abril de 2019, Bolsonaro disse numa entrevista que a reeleição é péssima para o país, porque os governantes "se endividam, fazem barbaridade, dão cambalhota" para se reeleger. Hoje, o capitão faz as suas barbaridades. E Paulo Guedes dá cambalhotas junto com o chefe.
Com a política fiscal em frangalhos, Campos Neto carrega o piano da política monetária. Faz o que lhe resta: sobe os juros e regula a torneira do câmbio. Beneficiado pela autonomia do Banco Cenral, leva a boca ao trombone.
Por Josias de Souza
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