A pretexto de atacar seu ex-ministro Sergio Moro, hoje adversário na corrida presidencial, Bolsonaro desnudou a estratégia do Departamento de Blindagem. Embora não conste de nenhum organograma oficial, essa é a repartição mais eficiente do atual governo. Possui ramificações em todos os recantos da administração federal.
"Esse cara não fez absolutamente nada para que Coaf, a Receita, não bisbilhotasse não só a minha vida como de milhares de brasileiros", disse Bolsonaro, referindo-se a Moro numa entrevista à Gazeta do Povo. "Isso nos atrapalha. Você pode investigar o filho do presidente? Pode. Você pode investigar a mulher do presidente? Pode. Mas investiga legalmente, com uma acusação formal. Eu posso ser investigado, mas não dessa forma como eles fazem."
Bolsonaro já nem se preocupa em maneirar. Premiado com a inoperância do procurador-geral da República Augusto Aras, com a complacência do Supremo Tribunal Federal e com a inércia da Justiça Eleitoral, o presidente fala abertamente sobre sua aversão a investigações contra si mesmo, sua família e seus amigos.
É como se Bolsonaro, um transgressor didático, quisesse produzir provas contra si mesmo. Suas palavras soam mais soltas depois de ter desligado o Coaf da tomada, depois de ter aparelhado a Polícia Federal, depois de ter encomendado ao ministro Paulo Guedes, da Economia, o afastamento de um secretário da Receita Federal que resistia às incursões de Flávio Bolsonaro no órgão.
Se o Brasil fosse um país sério, Bolsonaro já não seria presidente. Mas o Departamento de Blindagem reimplantou no país a monarquia. Nela, reina a desfaçatez. Sergio Moro fica obrigado a dizer meia dúzia de palavras sobre as razões que o levaram a servir ao reino durante quase um ano e meio.
Por Josias de Souza
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