sábado, 11 de dezembro de 2021

Auxílio Brasil acode os famintos e a candidatura presidencial de Bolsonaro



Bolsonaro tornou-se beneficiário de um paradoxo. Principal peça da engrenagem do seu projeto de reeleição, o Auxílio Brasil de R$ 400, que começa a ser pago nesta sexta-feira, não estaria de pé sem os votos da oposição no Congresso. Ironicamente, coube ao Senado, visto como bunker de resistência ao Planalto, erguer os últimos pilares do programa.

Até senadores do PT e de partidos engarrafados na terceira via foram compelidos a votar a favor da medida provisória que criou o novo Bolsa Família. Ajudaram a aprovar também a emenda constitucional que furou o teto de gastos para fornecer a Bolsonaro a verba que pode financiar sua viagem até o segundo turno de 2022.
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Na prática, Bolsonaro foi beneficiado por sua própria inépcia. O governo foi incapaz de planejar adequadamente a resolução do problema da fome, agravado pela pandemia. Mas revelou-se genial em organizar a confusão em que foram metidos os brasileiros que não têm o que comer.

Quem precisava de alimento recebeu uma mistura de improviso com descaso. Surgiram as filas do osso, as invasões aos caminhões de lixo dos supermercados... A crise se tornou tão aguda que o Congresso não teve senão a alternativa de aprovar um projeto social concebido em cima do joelho. A opção seria a potencializar o drama de quem passa fome.

Num cenário em que a alta da inflação força o Banco Central a elevar os juros, anestesiando a atividade econômica, o socorro de R$ 400 talvez seja insuficiente. Mensagem enviada pela pasta da Economia à Comissão de Orçamento do Congresso já prevê R$ 415 para o início de 2022. E ninguém dúvida de que Bolsonaro subirá o valor do benefício na proporção direta de eventuais quedas nas pesquisas. O céu e o déficit público são os limites.

No ranking das prioridades nacionais, a miséria ultrapassou os flagelos da Covid e da corrupção. Nesse ambiente, o Auxílio Brasil funciona como um espécie de respirador instalado com mão-de-obra da oposição na candidatura de Bolsonaro.

Por Josias de Souza

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