sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Verba secreta derrete os partidos no Congresso



Para que servem os partidos políticos? Antes da aprovação em primeiro turno da proposta de emenda constitucional que cria um Bolsa Reeleição de R$ 91,6 bilhões para Bolsonaro alguém que apresentasse uma proposta de dissolução dos partidos seria aplaudido. Depois do que aconteceu no plenário da Câmara na madrugada de quinta-feira, o hipotético autor de um projeto de extermínio das legendas seria aclamado em praça pública.

As cúpulas partidárias perderam o restinho de controle que imaginavam ter sobre suas bancadas. Na prática, cada deputado virou líder de si mesmo. Bem pagos, os partidos do centrão votaram maciçamente a favor da proposta. Mas quem livrou Bolsonaro da derrota foram as legendas que se dizem oposicionistas ou independentes. Espetada no déficit público, a conta da infidelidade foi alta.

Deputados de legendas que cogitam lançar candidatos ao Planalto votaram de costas para os projetos dos seus presidenciáveis. O mapa da votação contém dados constrangedores para os críticos de Bolsonaro. O capitão precisava de 308 votos para prevalecer. Obteve 312. Apenas quatro votos de lambuja.

O PSDB de Doria e Leite deu 22 votos a Bolsonaro. O PDT de Ciro ofereceu ao Planalto 15 votos. O PSD de Pacheco, 29. O Podemos de Moro, 5. O MDB de Simone Tebet, 10. Quer dizer: qualquer uma dessas hipotéticas legendas poderia ter derrotado o capitão, forçando-o a ajustar seu populismo ao teto.

Tomados pelos seus programas, a maioria dos partidos representa os mais louváveis valores da humanidade. Evoluem sem sentir para a defesa de grupos e corporações. E terminam virando estruturas vazias, sem conteúdo.

Os partidos perderam a função. A própria política tornou-se irrelevante. Não há ideias nem projetos alternativos. As épocas têm trilhas sonoras. A trilha da redemocratização brasileira é o tilintar de verbas. Donos do próprio nariz, os parlamentares são a favor de tudo e contra qualquer outra coisa, desde que seus interesses sejam contemplado$.

Por Josias de Souza

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