terça-feira, 23 de novembro de 2021

Após tramar envio de Bezerra para TCU, Bolsonaro pode ter de engolir Kátia



A Praça dos Três Poderes é o pedaço de um Brasil muito distante, onde a anormalidade é normal. No momento, desenrola-se ali uma dessas manobras em que os envolvidos se desobrigam de maneirar. Bolsonaro antecipou em quase um ano a aposentadoria do ministro do TCU Raimundo Carreiro, indicando-o para o posto de embaixador do Brasil em Portugal. Tramou acomodar no lugar dele o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

Na lateral oposta da praça, ministros do Supremo Tribunal Federal assistem à movimentação de Bolsonaro com inusitada passividade. O preferido do presidente para a vaga de fiscal da União no tribunal de contas responde a inquérito que corre na Suprema Corte com a velocidade de uma tartaruga com covid. Fernando Bezerra é acusado de corrupção. Coisa da época em que foi ministro de Dilma.

Numa outra margem da praça, sob a cuia emborcada que esconde o miolo do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) comanda uma articulação que atravessa na traqueia de Bolsonaro o nome de Kátia Abreu (PP-TO). Ex-candidata a vice na chapa de Ciro Gomes, a senadora ganha ares de favorita na disputa pela poltrona no TCU. Supera Bezerra e também o colega Antonio Anastasia, nome da predileção do presidente do Senado Rodrigo Pacheco.

Articulador do pai no Senado, Flávio Bolsonaro começa a se render às evidências, aproximando-se de Kátia Abreu, a preferida do seu desafeto Renan. No início do mês, Bolsonaro disse numa solenidade oficial, diante das câmeras, que o TCU deixou de ser um órgão que amedronta. Tornou-se um tribunal que "participa das decisões governamentais como se fosse um órgão integrado a nós." A integração do TCU com o governo, quando é muita, estraga a obrigação de fiscalizar.

Por Josias de Souza

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