sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Gil e Fernanda na ABL iluminam apagão cultural



A chegada de Gilberto Gil e de Fernanda Montenegro à Academia Brasileira de Letras tem o efeito de um clarão em noite de tempestade. É como se a academia fizesse piscar um par de relâmpagos para sinalizar que o apagão cultural promovido pelo governo Bolsonaro não eliminou a eletricidade que mantém em funcionamento as caldeiras da civilização brasileira.

Fernanda Montenegro foi chamada de "sórdida" e "mentirosa" por Roberto Alvim, o dramaturgo que deixou a Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro depois de se exibir num vídeo em que plagiou trechos de um discurso do ministro nazista Joseph Goebbels. Gilberto Gil foi expurgado do rol de personalidades negras notáveis que constavam de uma lista exibida no site da Fundação Palmares, administrada com viés racista pelo negro Sérgio Camargo.

Além de dar visibilidade a quem merece, a Academia Brasileira de Letras sacode, por assim dizer, o mofo que ainda caracteriza a sua imagem. Os 92 anos de Fernanda Montenegro e os 79 anos de Gilberto Gil rejuvenescem a entidade.

O escritor Carlos Heitor Cony contava uma história emblemática sobre a transformação de notáveis em acadêmicos. O caso envolve dois fundadores da academia.

Joaquim Nabuco sugeriu a Machado de Assis que o Barão do Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores, um dos homens mais importantes do seu tempo, fosse admitido como membro da Academia Brasileira de Letras. Machado hesitou, alegando que o barão não tinha livro publicado. E Nabuco: "Rio Branco está escrevendo o mapa do Brasil". O barão virou um acadêmico.

Fernanda Montenegro e Gilberto Gil não têm apenas livros. São coautores da história da diversidade cultural do Brasil. Conquistaram a imortalidade antes de entrar para a academia.

Por Josias de Souza

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