Nenhum outro país do mundo oferece aos políticos tantas opções partidárias como as que existem no Brasil. Basta o sujeito decidir se é meia esquerda, um quarto de esquerda, direita responsável ou direita bolsonarista e sempre haverá um partido à disposição. Mas Bolsonaro, com 33 legendas à disposição, comanda o país há mais de dois anos como um presidente sem partido. Isso acontece não por falta de opção, mas por excesso de perversão.
Bolsonaro não deseja apenas se filiar. Ele quer se apropriar de um partido. E as legendas à disposição já têm donos. O capitão já passou por nove partidos. Excetuando-se o PSL, seu penúltimo abrigo, foi tratado com desdém em todos os outros. Agora, quer mandar. Seu desejo de tirar o atraso esbarra na indisposição dos proprietários dos partidos de abrir mão do controle que absoluto que exercem sobre as legendas.
No caso do PL, que estava de casamento marcado com Bolsonaro para 22 de novembro, o dono do negócio é Valdemar Costa Neto. O sujeito não abriu mão dos poderes que exerce sobre a legenda nem quando integrou a bancada presidiária do mensalão. Comandou os negócios da facção partidária de dentro da cadeia. A união com Bolsonaro foi adiada porque Valdemar hesita em admitir como sócio alguém que gostaria de ocupar o seu lugar.
Bolsonaro precisa de dinheiro para a campanha e de tempo de propaganda de televisão. Valdemar quer muito mais. Ele fecha acordos eleitorais com uma lógica empresarial. Para 2022, planejou fazer uma aplicação de risco na apólice de Bolsonaro, diversificando seus investimentos nos estados. Suas apostas vão de Rodrigo Garcia, o candidato de João Doria ao governo de São Paulo, até candidaturas estaduais vinculadas a Lula no Nordeste.
A prioridade de Valdemar não é reeleger Bolsonaro, mas elevar o número de deputados federais do PL. Com uma bancada forte, o oligarca do PL aumenta a mordida no fundo partidário e no fundo eleitoral. E eleva o seu cacife para chantagear o próximo presidente da República, seja ele quem for.
Bolsonaro ainda pode se filiar ao PL. Mas Valdemar não fechará nenhum negócio que implique a renúncia à chave do cofre ou a perspectiva de prejuízos financeiros.
No PSL, partido que cresceu na sua aba, Bolsonaro dispunha de tempo de TV e de uma caixa registradora com R$ 350 milhões. Em vez de se entender com Luciano Bivar, o dono do partido, criou uma crise que o deixou sem propaganda e sem dinheiro.
Bolsonaro não conseguiu fundar seu próprio partido, o Aliança Brasil. Antes de se declarar noivo do PL, namorou outras quatro legendas: Patriotas, PTB, Republicanos e PP. Precisa fazer uma escolha até final de março de 2022. À medida que o tempo passa, encurta-se a margem de manobra do presidente.
Por Josias de Souza
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