terça-feira, 16 de novembro de 2021

Lógica: Alckmin em SP, Lula com empresário e 3ª via sem duplo cancelamento


Lula, pré-candidato do PT à Presidência, e Geraldo Alckmin, pré-candidato ao governo de São Paulo ? e não deve ser pelo PSDB Imagem: Ricardo Stuckert/Reprodução/Facebook/Lula; Paulo Whitaker/Reuters

A política é um dos raros campos da experiência humana em que os fatos podem se contrapor à lógica. O resultado nunca é bom. Como não disse, mas poderia ter dito, o Conselheiro Acácio, "as consequências vêm depois". Por isso mesmo, nunca me arrisco a fazer previsões: "Tal coisa vai acontecer..." — ou, então, "jamais acontecerá". Política lida com paixões. Fora do controle, são alheias à razão e mandam a lógica para o ralo.

Pior de tudo: há o fortuito, acidental, inesperado. E com poder disruptivo. Num surto, um sujeito decide dar uma facada num idiota disfuncional. E pronto! Claro, tal personagem não atuava no vácuo. Outros idiotas — o de toga e aqueles de terninho preto, brincando de amiguinhos de Eliot Ness — já haviam devastado o meio ambiente político. E pronto! Eis a Terra dos Mortos, de que precisamos sair.

Por que essas considerações? Até outro dia, poder-se-ia fazer mais ou menos a seguinte síntese dessa conversa, na qual nunca apostei, de que Geraldo Alckmin pode ser vice de Lula: "O petista não confirma, mas também não desmente". No noticiário deste feriado, a hipótese parece ter esfriado bastante. O ex-presidente lembra que há dezenas de candidatos a vice e nem ele próprio sabe se vai disputar. Que dúvida!...

Convenham! Nos campos onde brota a lógica, essa composição nunca existiu. Nem sentido faz. Não para Alckmin. Não para Lula. "Em política, Reinaldo, tudo é possível..." Sim, leitores, isso nos devolve ao primeiro parágrafo. Mas, sendo assim, então nada precisa ser também escrito. Logo, todas as considerações, a partir de agora, se atêm àquela velha dama de companhia: a lógica.

OPÇÕES DE ALCKMIN

Não parece que sobre muito espaço para Alckmin no PSDB. Seria, se quisesse, candidato ao Senado pelo partido, mas não quer. Sua pretensão, o que é sabido desde quando a questão se coloca, é o Palácio dos Bandeirantes. Ocorre que João Doria garantiu essa vaga a Rodrigo Garcia, o vice, que migrou das fileiras do DEM para as do tucanato. Confesso que, na minha leitura da lógica, essa movimentação não fez sentido. Mas deve fazer para o atual governador. Eu já antevejo prejuízos para ele decorrentes da lógica ignorada. É certo que ele pensa o contrário.

Posto isso, parece evidente que Alckmin terá de mudar de partido caso queira se candidatar ao governo de São Paulo. Não seria vice de Lula como tucano porque o PSDB terá candidato — e é bem provável que Doria vença a disputa interna.

Assim, o ex-governador só poderia ser vice de Lula estando em outro partido: as alternativas hoje postas para ele — as que fazem sentido — são o PSD, presidido por Gilberto Kassab, com tapete vermelho de boas-vidas e tudo, e o União Brasil, nascido do casamento do PSL com o DEM. Em São Paulo, essa legenda já nasce com, vamos dizer, uma "mão forte": o vereador Milton Leite (DEM). Alckmin aceitaria, de saída, ser um subordinado em sua própria província? Lá vamos nós: não faz sentido.

Assim, parece-me que o PSD surge mesmo como o caminho natural para o ex-governador. Tem garantida a sua candidatura ao governo do Estado. Segundo as pesquisas, lidera as intenções de voto — sim, a corrida nem começou.

PSD E QUESTÃO NACIONAL

A que legenda teria de pertencer Alckmin para ser vice de Lula? Das citadas até aqui, convenham, não poderiam ser PSDB, União Brasil ou mesmo PSD. A legenda presidida por Kassab marcaria um golaço se conseguisse elegê-lo governador de São Paulo. De resto, o partido não tem nada a perder se apostar mesmo na candidatura de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, à sucessão de Bolsonaro.

O senador estará no meio do mandato. Se eleito não for, volta para o Senado, mas com um capital político ainda maior do que tem agora. Passou a transitar com notável desenvoltura nos tais bastidores da política e não maculou, em nenhum momento, a independência do Congresso. Ganhou respeitabilidade. O espaço da chamada terceira via está congestionado e fragmentado. Vai quê...

OS POSTULANTES AO BANDEIRANTES

É claro que, se eu fosse o petista Fernando Haddad, estaria torcendo para que Alckmin aceitasse ser vice de Lula. Nas simulações em que o ex-governador aparece em primeiro lugar na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-prefeito petista costuma aparecer em segundo. Também a Márcio França, do PSB, tido como um bom vice de Alckmin, a possibilidade seria interessante.

Mas vou insistir na pergunta: em que legenda teria de estar o ex-governador tucano para poder ser vice do Lula? Existe mesmo essa possibilidade no mundo dos fatos? Parece que não. A chance de o ex-presidente disputar o segundo turno na eleição do ano que vem — contra Bolsonaro ou outro qualquer — é grande. Se Haddad for para a etapa final em São Paulo, é claro que o líder petista o apoia. Na hipótese de isso não acontecer, por que Lula não apoiaria Alckmin e vice-versa?

Em síntese, Alckmin é um bom nome para ajudar o PSD de Kassab a ganhar musculatura. Pacheco suplantando os adversários para uma disputa final com o ex-presidente seria o cenário de sonho para a legenda. Não acontecendo assim e se confirmando o "Lula X Bolsonaro", é pouco provável que o PSD forme com o atual presidente. Ainda que Alckmin e Haddad disputassem um segundo turno em São Paulo, é certo que os petistas buscariam a vitória, mas a prioridade seria a eleição presidencial. De resto, há uma variável na disputa local que precisa ser levada em conta: o PT não conseguirá tirar Guilherme Boulos (PSOL) da disputa só com a conversinha da "unidade de esquerda". Alckmin sendo candidato ao governo de São Paulo, Haddad não pode correr o risco de ficar fora do segundo turno.

O VICE DE LULA

O terreno das alianças políticas anda um tanto inóspito. Para todo mundo -- com a possível exceção de Bolsonaro. Parece curioso, dada a corrosão de sua popularidade, mas não é. Legendas do centrão tendem a se juntar ao presidente de olho mais nas verbas no que nos votos. Ademais, alianças nacionais nunca impediram traições regionais -- e é assim não é de hoje.

Tudo indica que PT caminhe com PSOL, PCdoB e PSB. Uma aliança mais ampla, fora da esquerda, parece, hoje ao menos, difícil. Mas também no campo da direita as coisas andam confusas. União Brasil dialoga, consta, com Sergio Moro. Será mesmo que "o partido da Lava Jato" arrasta como subordinados fiéis o ex-PSL e o ex-DEM não bolsonaristas? No caso da vitória de Doria no PSDB, dá-se como difícil uma aliança com a nova legenda. Mesmo a hipótese de um Moro candidato ao Senado por São Paulo, em aliança com o atual governador, entendo, está longe de ser tarefa simples.

Faço tais considerações porque já andei lendo que a Lula restaria escolher um vice no campo da esquerda, ainda que moderado (provavelmente do PSB), descartando-se, desde já, o "José Alencar" da hora: um empresário que servisse como elemento tranquilizador de mercados...

Confesso que acho esse troço de "tranquilizar mercados" conversa de especulador. Eles não têm razão nenhuma para temer o petista. Alguns que transitam nesse mundo sentem é saudade... Para o eleitorado, aí sim, um nome inequivocamente moderado poderia ser importante. Afinal, as hostes da difamação estarão inflamadas.

Penso que não se deve descartar tal possibilidade — e acho que seria o mais inteligente. Não por acaso, o "casal" eleitoral mais "shippado" das redes até outro dia era formado por Lula e Luiza Trajano. É evidente que ela ganhou uma personalidade política, independentemente de ser uma empresária bem-sucedida. Mas ninguém ignora tal condição quando faz essa torcida.

A composição com um empresário, insisto, teria menos a ver com a garantia de que Lula vai seguir as regras do jogo — o PT não é uma ameaça disruptiva — do que com um sinal de que é preciso unir o país que o bolsonarismo ajudou a esgarçar.

PARA ENCERRAR

A propósito e para encerrar: há um certo cansaço de demonizações e porfias. Há muita gente enfarada com a militância dos que lutam para fraturar o país, para eliminar da face da Terra os que não rezam rigorosamente segundo o seu credo. Tenho prestado atenção aos discursos dos chamados candidatos a candidato da terceira via. Pergunto, e isto também vale para Moro, se não têm cometido o erro de propor não um cancelamento, mas dois, lutando pela condição de postulante "nem-nem".

Lula, diga-se, tem se manifestado pouco. Quando começar a falar muito — e isso, claro!, vai acontecer —, terá de tomar cuidado justamente para não estreitar o campo da audiência.

Por Reinaldo Azevedo

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