Jair Bolsonaro nunca escondeu o que pensa dos povos indígenas. O presidente já comparou os brasileiros que vivem em áreas demarcadas a “animais no zoológico”. Há duas semanas, disse que eles “estão evoluindo”. “Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”, afirmou.
Ontem o governo passou da retórica à ação. De manhã, o “Diário Oficial” confirmou a entrega de um cargo-chave da Funai a um missionário evangélico. À tarde, o presidente assinou projeto que libera a extração de minério em terras indígenas.
Ligado a uma organização americana, o evangelizador Ricardo Lopes Dias assumirá o setor de proteção aos índios isolados. Para permitir sua posse, a Funai mudou a regra que reservava o cargo a servidores de carreira.
A nomeação assustou antropólogos e indigenistas. Eles temem que a estrutura da Funai seja usada para forçar contato com os índios isolados e facilitar o proselitismo religioso na floresta.
Em outra frente, Bolsonaro assinou projeto que libera o garimpo em terras indígenas. A proposta abre caminho para uma antiga bandeira do capitão. Ele sempre fez lobby para entregar áreas protegidas da Amazônia à cobiça das mineradoras.
Para o indigenista Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental, as ações do governo afrontam direitos garantidos na Constituição. Ele diz que Bolsonaro usa o poder para executar uma “política anti-indígena”. “As declarações do presidente são toscas e preconceituosas. Revelam uma visão primária das relações da sociedade com os povos indígenas”, afirma.
Em solenidade no Planalto, o ministro Onyx Lorenzoni definiu o projeto que libera o garimpo como uma “nova Lei Áurea”. Ele disse que os índios vão ganhar “autonomia”, como se o objetivo não fosse entregar as riquezas do subsolo a grandes mineradoras.
Neste ponto, Bolsonaro foi mais sincero. Ele admitiu que a proposta pró-garimpo sofrerá duras críticas dos ambientalistas. Em seguida, disse o que gostaria de fazer com o “pessoal do meio ambiente”. “Se um dia eu puder, confino-os na Amazônia”, afirmou.
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