Seria tentador escrever que o presidente Jair Bolsonaro atravessa o momento mais difícil do seu (des)governo desde que ele começou em janeiro do ano passado, mas não seria certo. Houve outros momentos tão difíceis quanto este. E haverá outros certamente até que seu mandato chegue ao fim.
O fim oficial está marcado para 31 de dezembro de 2022. Mas não se descarte que ele possa chegar antes por obra do imprevisível ou dos sucessivos erros que nublam o futuro próximo. Quando nada, é bom que se diga, os militares tentarão sustentá-lo no cargo por até dois anos pelo menos.
Se despencasse antes disso haveria eleição direta para presidente como manda a Constituição. Se despencasse depois, assumiria o vice, o general Hamilton Mourão, para completar o mandato. A depender de Bolsonaro, ele governará quatro anos e mais quatro. Já imaginou se for assim?
A mais recente crise deflagrada por Bolsonaro dificilmente resultará em algo maior do que uma crise, a dissipar-se quando uma nova entrar em cena. Dizia-se que ele poderia ir ao chão caso a investigação sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega acabasse batendo à sua porta, e a da sua família.
Sobreveio à ameaça por nome de Adriano a crise detonada pelo general Augusto Heleno que acusou o Congresso de chantagem e foi gravado dizendo “Foda-se”. No rastro da explosão de cólera do general, destinada a ser abafada pela passagem do carnaval, Bolsonaro deu um jeito de produzir mais estragos.
Ou é um louco, ou um inconsequente, ou gosta de viver perigosamente como o paraquedista que foi um dia. Heleno explodiu depois de um acordo firmado com o Congresso pelos ministros Paulo Guedes, da Economia, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria do Governo, em torno de verbas do Orçamento.
No passado, as emendas dos parlamentares ao Orçamento da União poderiam ou não ser cumpridas. Elas reservam dinheiro para obras nos redutos eleitorais de deputados e senadores. E serviam como instrumento de chantagem do governo. Quem votasse como ele mandava tinha sua emenda liberada.
A liberação obrigatória do previsto nas emendas avançou em março do ano passado e foi saudada com entusiasmo pelo deputado Eduardo Bolsonaro, à época líder do PSL, em discurso na Câmara. Mais tarde, em mensagem postada em sua conta no Twitter, ele escreveu:
“Nunca foi pauta do governo Bolsonaro fazer o Legislativo de refém através de emendas orçamentárias. Quando deputado, @jairbolsonaro apoiou a PEC do orçamento impositivo. Mantemos a coerência. Vitória do Legislativo e da independência entre os poderes”.
Quer dizer: o que Guedes e Ramos acertaram, este ano, com o Congresso, fora desenhado em março de 2019 e celebrado por Eduardo em nome do seu pai. A explosão de cólera do general Heleno obrigou Ramos, seu colega de farda, a vir a público dizer que tudo havia sido combinado previamente com o governo.
E então? Por que Heleno bateu com o pau na mesa? Por que Bolsonaro que, na hora, até tentou contê-lo, vestiu o paraquedas para saltar atrás das linhas inimigas, atirando no Congresso pelas costas? Ganha um fim de semana com tudo pago no eco-Resort de Rio Das Pedras quem adivinhar a resposta.
Por Ricardo Noblat
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