A demissão de Gustavo Canuto, ministro do Desenvolvimento Regional, pode significar o início da reforma do governo de Jair Bolsonaro em gestação desde meados do segundo semestre do ano passado – ou não. Sua substituição por Rogério Marinho, essa significa, sem dúvida, que o ministro Paulo Guedes, da Economia, continua forte no cargo, apesar de Bolsonaro.
Canuto é um engenheiro de computação e servidor público há quase 10 anos. O Ministério que comandava sucedeu o Ministério das Cidades. Seu orçamento é de 14 bilhões de reais. Cuida de projetos na área de habitação, como o Minha Casa Minha Vida, de saneamento e de irrigação de áreas rurais. Em ano eleitoral, é uma mina de ouro para políticos interessados em se eleger.
Filiado ao PSDB, ex-deputado federal que não conseguiu se reeleger em 2018 em seu Estado, o Rio Grande do Norte, Marinho destacou-se como secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. Bolsonaro deve mais a ele do que a Guedes a aprovação da reforma da Previdência. Marinho é um hábil negociador com amplo trânsito no Congresso.
Sua nomeação foi comemorada por Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Os dois, mas não somente eles, queixavam-se de Canuto a quem acusavam de ser insensível aos pedidos de liberação de emendas ao Orçamento para a construção de pequenas obras nos redutos eleitorais de parlamentares.
São muitos os ministros mortos-vivos que arrastam suas correntes nas vizinhanças de Bolsonaro – os mais notórios, os da Casa Civil, Educação e Meio Ambiente. O expurgo de Canuto, porém, não é nenhuma garantia de que teve início um expurgo coletivo como muitos, aqui fora, desejam. Desde que assumiu, o ex-capitão está em campanha para provar que o único general do governo é ele.
Se vaza que pretende fazer isso ou aquilo outro, Bolsonaro se irrita, desmente, cancela a decisão que estava prestes a tomar ou a retarda o máximo possível mesmo que em seu próprio prejuízo. Jamais engoliu o fato de ter sido afastado do Exército por iniciativa dos generais da época. Sentiu-se injustiçado. Mas agora são os generais que lhe batem continência.
Deputados e senadores com muitos anos de Congresso enxergam na troca de Canuto por Marinho a aceleração da Velha Política travestida de nova para satisfação dos devotos do capitão. As eleições municipais estão logo ali. E, daqui a dois anos, Bolsonaro pretende renovar o seu mandato. Sabe como é. Como sempre foi.
Por Ricardo Noblat
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