Jair Bolsonaro é um presidente teatral. De vez em quando, ele exagera na teatralidade. Quando isso ocorre, o teatro do presidente oscila entre o oportunismo e a mediocridade. É o que está acontecendo no caso dos combustíveis. Numa provocação aos governadores, Bolsonaro disse que os Estados deveriam baixar o ICMs que incide sobre os combustíveis. Fez isso sabendo que seria criticado e que as críticas permitiriam que ele executasse no palco um segundo ato.
Bolsonaro declara agora que está disposto a zerar os impostos federais sobre os combustíveis —PIS/Cofins e Cide— se os governadores também zerarem a cobrança do ICMs. O presidente sabe que seu governo não tem condições de zerar os tributos. Bolsonaro tem perfeita noção de que a maioria dos Estados foi à breca. Alguns não conseguem pagar a folha em dia. Num cenário em que não há verba para educação e saúde, subsidiar combustível fóssil seria uma insanidade.
Por que Bolsonaro defende coisas que sabe que não irão acontecer? Simples: para fazer pose na sua bolha das redes sociais. Para poder dizer aos caminhoneiros que o seguem na internet que a culpa pelo reajuste dos combustíveis é dos governadores, não do governo federal. Esse tipo de comportamento tem nome. Chama-se populismo.
Fazer populismo com o preço dos combustíveis é uma trilha perigosa. No governo de Dilma Rousseff, essa fórmula resultou em desastre. A Cide foi reduzida até chegar a zero. Outros tributos foram rebaixados. A Petrobras passou a absorver o custo. Chegou a importar petróleo mais caro do que vendia. O subsídio aumentou o consumo e impôs prejuízos aos cofres públicos. Abriu nos cofres da Petrobras uma cratera de US$ 40 bilhões.
Bolsonaro deveria olhar pelo retrovisor e interromper o teatro. Além de não combinar com a responsabilidade fiscal de sua equipe econômica, a encenação do presidente ofende a lógica.
Por Josias de Souza
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