O cenário construído na passagem do ano já se desfez. Tanto no campo político, como no campo econômico. Foi criado artificialmente um quadro de bonança econômica. Dava a impressão de que o mundo inteiro estava interessando em investir no Brasil. Mas já era evidente o distanciamento do discurso em relação à realidade econômica. Os dados da balança comercial de 2019 eram preocupantes. Mesmo mantendo superávit, o valor foi o menor desde 2015. E o mês de janeiro apresentou déficit, o primeiro desde fevereiro de 2015. Diversamente de janeiro de 2019, quando o saldo da balança foi de pouco mais de US$ 1,6 bilhão. A retirada de capital estrangeiro da bolsa é outro dado preocupante. No ano passado foram embora R$ 44,5 bilhões.
Mas, para piorar, só no último mês de janeiro e início de fevereiro, a fuga foi de R$ 23 bilhões. Caso se mantenha esta tendência, não vai causar admiração no primeiro semestre seja atingido o total do ano anterior. O dólar atingiu em fevereiro a maior cotação da história e o real foi a moeda que mais se desvalorizou neste ano, comparativamente com outras aqui da América Latina.
Assim, o crescimento do PIB para 2020 estará muito distante da meta inicial. O “mercado” e as autoridades do ministério da Economia propalavam aos quatro ventos que o Brasil cresceria 2,5%. Nada indica que vá ocorrer. Não custa recordar que no ano passado a estimativa inicial era de até 2,5%. Ao longo dos meses as projeções foram caindo. Hoje, pois, o dado final ainda não foi divulgado, espera-se uma taxa inferior a 1%, menos da metade da estimada em janeiro de 2019. E consultorias já, ainda em fevereiro, estão refazendo os cálculos para este ano. Algumas falam em 2%.
O curioso é que nenhum consultor fica sequer ruborizado. Os erros abissais são sistemáticos. A explosão do crescimento econômico iria só aumentar em 2021 e 2022. Desta forma estaria viabilizada uma reeleição tranquila de Jair Bolsonaro. Bastaria ao presidente melhorar a articulação política com o Congresso Nacional, ampliar a base de sustentação nas duas casas e aguardar o voto popular. Isto porque, naturalmente, os políticos iriam buscar o guarda chuva eleitoral do bolsonarismo em busca da popularidade e dos êxitos da sua gestão presidencial. Não foi nem necessário esperar o Carnaval chegar para que tudo isso ruísse – e antes da quarta-feira de Cinzas. A tendência é justamente oposta à desenhada pelas Polianas de plantão.
E quem diz que o rei está nu é chamado de “impatriótico.”
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