Jair Bolsonaro, ao se olhar no espelho, deve se ver como um Donald Trump em ponto menor. Um Trump de bolso, mas tão voluntarioso quanto, cortador de atalhos, que faz o que acha que precisa ser feito. Daí, como Trump, sente-se autorizado a espezinhar a máquina administrativa, a liturgia do poder e as instituições. Acontece que, por mais grosso, Trump não improvisa. Faz-se de ignorante, mas frequentou museus em jovem, estudou economia e aprendeu a falar. O matuto Bolsonaro estudou ordem unida, saltar de paraquedas e lavar cavalos. Há uma diferença.
Assim como Trump, Bolsonaro cavalga sobre a Constituição que jurou defender, desfaz conquistas de governos anteriores e despreza conceitos que há muito se julgavam estabelecidos, quanto às minorias, ao meio ambiente e às relações internacionais. Dia sim, dia não, precisa investir contra o Congresso, o Judiciário, a imprensa, a ONU e qualquer organismo que veja como uma ameaça à sua autoridade —para mostrar que está no poder. E como bate sem levar troco sente-se forte.
Também como Trump, Bolsonaro frita e demite aliados de cuja lealdade desconfia e desfaz-se de amigos que o ajudaram a vencer. Ele é o chefe. Pior, submete importantes auxiliares a uma ciranda de humilhações, elogios e novas humilhações, para mantê-los na ponta dos pés. Já fez isso com o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro Sergio Moro e outros, e acaba de fazer com os governadores da Amazônia. Eles levam a bofetada e não reagem. Um dia, para surpresa de Bolsonaro, alguém reagirá.
Enquanto canta de galo em seu terreiro, Bolsonaro ajoelha-se e acoelha-se diante de Trump. Sob sua orientação, o Brasil trabalha até contra si mesmo para favorecer os EUA, sem receber em troca um mínimo agrado.
Trump despreza Bolsonaro? Resposta: claro que não. Trump nem sequer pensa em Bolsonaro a ponto de desprezá-lo.
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