No atual governo, um fenômeno se repete. Sempre que é confrontado com um problema, Jair Bolsonaro executa a mesma mágica. Ele magnifica a encrenca. Um problema fica sempre maior depois de passar pela mesa do presidente da República. No caso do derramamento do óleo na costa do Nordeste, Bolsonaro e seus auxiliares menosprezaram a questão na origem. Quando o governo parecia, finalmente, ter retomado o controle da situação, identificando um navio grego como principal suspeito do crime ambiental, o presidente produziu uma declaração explosiva. Disseminou medo.
"O pior está por vir", disse Bolsonaro no domingo, "uma catástrofe muito maior que, ao que parece, foi criminosa", ele declarou. Segundo o presidente, o óleo que chegou às praias "é uma pequena parte do que foi derramado". Pois bem. Nesta segunda-feira, numa entrevista conjunta das autoridades envolvidas no gerenciamento do problema, ficou demonstrado que não há nenhuma informação disponível capaz de atribuir ossatura técnica às palavas do presidente.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva , afirmou não é possível, por ora, quantificar o óleo vertido no mar. "Nós não sabemos a quantidade derramada, o que está por vir ainda", ele declarou. O almirante Leonardo Puntel, que coordena os trabalhos, foi ainda mais específico. Afirmou que há, no momento, "um arrefecimento do óleo" que chega às praias. Levantou inclusive a hipótese de que parte do óleo —"talvez até a maior quantidade", ele disse— tenha tomado o rumo da Guiana, dirigindo-se ao Caribe".
Pela primeira vez em mais de dois meses, o governo realizou uma entrevista em que ofereceu aos brasileiros evidências de que passou a tratar adequadamente a emergência ambiental. Havia na conversa com os jornalistas o almirante que centraliza os trabalhos, o delegado da Polícia Federal, representantes dos órgãos ambientais. Fizeram considerações técnicas. Nada de ideologia ou provocação política.
E qual foi o destaque do noticiário? As autoridades militares contradizem o presidente da República. Não se pode exigir de Bolsonaro que adquira a essa altura o talento de desfazer crises. Mas o presidente poderia pelo menos se livrar da crença segundo a qual é possível eliminar uma crise criando outra crise ainda maior.
Por Josias de Souza
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