sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Balanço de um ano: governo não sabe governar



Talvez o mais grave nem seja a radicalização ideológica, o retrocesso civilizatório nos direitos e nos costumes, as bravatas de quem se acha dono da democracia, e nem mesmo a falta de educação e o palavreado chulo e desrespeitoso – embora tudo isso seja gravíssimo. Prestes a completar um ano, o governo Bolsonaro não deixa dúvidas em relação à sua característica mais marcante: a incapacidade para governar um país do tamanho e da complexidade do Brasil, a inépcia na tomada de decisões que, como as de qualquer governo, afetam a vida de cada um.

Ao longo desses meses, vêm se avolumando, em praticamente todas as áreas, improvisos e decisões erradas por parte do poder público, e os prejuízos começam a ser sentidos de forma mais forte pelo cidadão.

Às vezes, dá em morte. Não é surpresa para quem acompanha os atos e palavras presidenciais, embora não deixe de ser chocante: o número de acidentes nas estradas no feriadão de 15 de novembro cresceu 18% em relação ao mesmo período de 2018, que foi até maior porque o feriado teve mais um dia. O número de infrações autuadas – excesso de velocidade, embriaguês ao volante, não uso do cinto de segurança, entre outras – aumentou em espantosos 66%.

Não é preciso ser um gênio para relacionar o comportamento dos motoristas irresponsáveis ao discurso de Bolsonaro contrário aos “pardais”, controles de velocidade e demais exigências de segurança no trânsito. Pior ainda, o discurso se materializou na retirada, por medida provisória, dos radares móveis das estradas. Paga-se o preço dessa insensatez.

Para ficar só nos últimos dias de desgoverno, temos uma série de vexames. Bolsonaro acabou, também por MP, com o DPVAT, o seguro para acidentes de trânsito – ao que se comenta, num gesto para prejudicar seu desafeto Luciano Bivar. A família do dublê de empresário e presidente do PSL é sócia de uma das seguradoras do consórcio que explora o DPVAT. Só que, além de deixar acidentados sem seguro, o governo se esqueceu que os mesmos recursos arrecadados com o imposto são usados para impressão dos documentos de licenciamento de toda a frota de veículos do país.

E agora? Talvez a sorte de Bolsonaro seja a disposição de deputados e senadores de rejeitar a medida provisória 904/19 – obviamente editada sem maiores estudos prévios. Mas a MP seguinte da série, a 905, pode acabar tendo o mesmo destino — ou acabar até sendo devolvida pelo Congresso ao Planalto. Ela cria o programa de incentivo ao emprego dos jovens entre 18 e 20 anos, o pessoal da carteira verde-e-amarela, mas se esqueceu de combinar com os russos que os R$ 10 bilhões das desonerações para os empresários virão de uma cobrança de contribuição previdenciária sobre o salário-desemprego. Nos penduricalhos, a MP ainda promove uma reforma trabalhista disfarçada quê dificilmente será aprovada por deputados e senadores.

A estratégia de Bolsonaro tem sido jogar a responsabilidade por todos os problemas que aparecem nos governos do PT. Tentou fazer isso esta semana, por exemplo, diante da ampla repercussão do aumento dos números do desmatamento da Amazônia. Não colou. É só olhar o período desse crescimento, entre meados de 2018 e de 2019, em plena vigência do discurso anti-ambientalista da atual administração.

Com quase um ano de governo, vai ficando cada vez mais difícil, para o presidente e seus auxiliares, manter a narrativa do não-tenho-nada-com-isso. Aos poucos, vai ser engolido pela do não-sei-governar.

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