Companheiros de farda que sempre respeitaram e enalteceram a experiência do general Augusto Heleno passaram a fazer ressalvas ao comportamento do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Esperavam que Heleno aproveitasse a amizade que o une a Jair Bolsonaro para levar ao presidente palavras de ponderação. E receiam que esteja ocorrendo o contrário: Heleno é que começa a incorporar à sua retórica o timbre radicalizado dos filhos do presidente e da chamada ala ideológica do governo.
Oficiais da ativa do Exército, entre eles um grande amigo de Heleno, avaliam que o ministro errou, por exemplo, ao comentar de forma superficial a hipótese de edição de um "novo AI-5", mencionada pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Em entrevista ao Estadão, Heleno soou assim: "Se ele falou, tem de estudar como vai fazer". Em privado, colegas de farda do ministro avaliaram que ele poderia refutar a ideia do filho Zero Três do presidente ou silenciar, jamais deixar no ar a impressão de que endossa algo que não é levado a sério na cúpula das Forças Armadas.
Dissemina-se entre os oficiais militares a avaliação segundo a qual o presidente e seus filhos com mandato tornaram-se fatores de instabilidade que prejudicam o funcionamento do governo. Um dos oficiais recordou, em conversa com o blog, comentário feito pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Demitido em junho do posto de ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Santos Cruz afirmou que o governo convive com um "show de besteiras" que acaba "tirando a atenção da coisas importantes" —as reformas econômicas, por exemplo.
A exemplo de Heleno, Santos Cruz era visto pelos colegas como um amigo de Bolsonaro, que dispunha de liberdade para alertar o presidente sobre as "besteiras". Porém, o capitão livrou-se do general-amigo sem nenhuma cerimônia. Imagina-se que Heleno, num esforço para evitar que sua cabeça vá à bandeja como a de Santos Cruz, tempera o discurso, apimentando-o. Faz isso num instante em que os militares franzem a testa para a usina de crises instalada no Planalto e no anexo familiar.
Por Josias de Souza
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