A principal ferramenta de trabalho do jornalista é o nariz. De todos os sentidos, o olfato é o que faz mais sentido na atividade jornalística. O melhor repórter, quando sente algo fedendo, corre atrás. Por mal dos pecados, a presidência do réu Arthur Lira não cheira bem.
Como ainda não inventaram lavanda capaz de disfarçar certos odores, o novo chefão da Câmara tirou um gambá da cartola. Decidiu tomar distância do nariz dos repórteres, um apêndice que brilha, espirra, coça e se mete onde não é chamado.
Lira transferiu para o porão da Câmara o comitê da imprensa, que funcionava há seis décadas num espaço contíguo ao plenário. Mandou instalar no local o gabinete do presidente.
Os repórteres perdem a possibilidade de farejar os ares malcheirosos que escapam pela portinha que liga o plenário ao comitê. E Lira livra-se do dissabor de tropeçar nos narizes que armam barricadas no trecho do Salão Verde que o presidente percorre a caminho da sessão.
Lira imagina estar golpeando o nariz da imprensa. Ainda não se deu conta de que desrespeita não os repórteres, mas a plateia que paga o seu salário e tem o direito de receber, com a devida rapidez, informações sobre o que andam fazendo na Câmara os seus hipotéticos representantes.
A remoção do comitê de imprensa é a primeira grande obra de Arthur Lira. Fica demonstrado que, impedido pela natureza de elevar a própria estatura, o líder do centrão decidiu rebaixar o pé-direito da Câmara.
A julgar pela timidez das reações, doravante bastará que os pares de Lira permaneçam de cócoras para serem considerados deputados de enorme altivez.
Por Josias de Souza
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