sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Bolsonaro sofre espancamento verbal e Pazuello evita defendê-lo no Senado


Plenário do Senado Federal durante sessão de debates temáticos destinada ao comparecimento do ministro de Estado da Saúde, convidado a prestar informações sobre as dificuldades enfrentadas pelo país para imunizar a população contra a covid-19 e sobre as medidas adotadas pelo Ministério da Saúde para promover a vacinação em todo o território nacional.Mesa:ministro de Estado da Saúde, Eduardo Pazuello;presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco DEM-MG).

Jair Bolsonaro foi submetido a um espancamento verbal durante a audiência convocada pelo Senado para ouvir explicações do ministro Eduardo Pazuello (Saúde). O general escutou calado o capitão ser chamado de "genocida", "patético", "incompetente" e "negacionista".

Pazuello deixou que o chefe apanhasse indefeso. Mal conseguiu defender a si mesmo. Articulada com o propósito de esvaziar um requerimento de instalação de uma CPI sobre a pandemia, a audiência revelou-se constrangedora.

O mais embaraçoso não foi o lote de críticas e interrogações formuladas pelos senadores, mas as respostas que o general não foi capaz de prover. Restou a impressão de que o Planalto terá de ralar mais do que gostaria para deter a CPI.

Num dos ataques que Pazuello suportou em silêncio, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) bateu abaixo da linha da cintura: "Eu tenho fé em Deus que tanto o senhor como o presidente da República irão responder por genocídio, seja aqui no Brasil, seja no Tribunal Penal Internacional."

Contarato prosseguiu: "O senhor deve ser responsabilizado criminalmente, como o presidente, porque vocês estimularam aglomeração, o não distanciamento social, a não utilização de máscaras e o uso de medicação sem nenhuma comprovação científica".

Desculpando-se por usar "palavras duras", o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse ter identificado na exposição feita por Pazuello na abertura da sessão "um misto de ignorância e mentira." O general não esboçou reação.

Para Alessandro, Pazuello soou ignorante ao declarar que o governo surpreendeu-se com a escalada de contágio que provocou o colapso do sistema hospitalar de Manaus. "Não surpreendeu a quem estava acompanhando o cenário técnico", declarou. "Fazia parte do roteiro traçado pelo vírus inclusive na Europa."

O senador considerou mentiroso o trecho em que Pazuello declarou que o governo agiu com rapidez e proatividade. Só houve agilidade no instante em que o governo minimizou a pandemia, avaliou Alessandro. Ele tachou de "patética" a previsão de Bolsonaro segundo a qual a pandemia seria uma "gripezinha".

Médico sanitarista, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) também mirou em Bolsonaro. Declarou que a "incompetência vem do centro do poder, da forma criminosa como, do ponto de vista sanitário, o presidente se conduziu." Na sua avaliação, o "grande responsável" pelo elevado número de mortos "foi o presidente, que não foi capaz de assumir a ciência". Pazuello reagiu com um silêncio de cemitério.

No comando da sessão, o novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), adotou um formato que favoreceu a fuga de Pazuello. Divididos em blocos de cinco, os senadores empilharam críticas e indagações. Ao responder coletivamente, o ministro desviou de interrogações incômodas e desconversou quando lhe pareceu mais cômodo.

Mesmo parlamentares com tendência governista crivaram Pazuello de críticas. Após ouvir a explanação em que o ministro negou ter sido alertado com antecedência sobre o colapso no fornecimento de oxigênio hospitalar no Amazonas o senador amazonense Eduardo Braga, do MDB, rodou a baiana:

"Não está tudo bem, não está tudo certo, e não foi feito tudo o que poderia ter sido feito", declarou Braga a Pazuello. "Eu estive com vossa excelência no seu gabinete, em dezembro. Eu já dizia que nós iríamos enfrentar uma onda no Amazonas muito grave."

Evitando fazer menção explícita à CPI da pandemia, Pazuello fez um "alerta". Traçou uma analogia inusitada entre o Brasil do coronavírus e a Alemanha de Adolf Hitler. Evocando os infortúnios de Hitler, insinuou que a abertura de uma frente de batalha política pode produzir mais mortes.

"Queria fazer o meu alerta: A Alemanha perdeu a guerra duas vezes porque ela abriu a frente russa", declarou o general. "Todo mundo avisou ao ditador que não devia abrir a frente russa - e ele abriu. Não há como manter duas frentes."

Pazuello engatou uma segunda marcha e foi adiante: "Nós temos uma guerra, é contra a covid. Ela é técnica, de saúde, não é política. Se abrir uma segunda frente, política e técnica, vamos apertar. Se nós entrarmos numa nova frente nessa guerra, que é a frente política, nós vamos ficar fixados. Se fixarmos a tropa que está no combate, vai ser mais difícil ganhar a guerra. O resultado disso é morrer mais gente."

Autor do pedido de CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) deu de ombros para o "alerta" do general: "A fala do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aqui no Senado, não convence", anotou no Twitter. "O país ainda precisa de muitas respostas e soluções. A CPI da Covid-19 continua sendo INDISPENSÁVEL!"

Guindado ao comando do Senado com o apoio de Bolsonaro, Rodrigo Pacheco planeja cozinhar o pedido de CPI em banho-maria até pelo menos quinta-feira da semana que vem.

Pacheco parou o relógio para matar o tempo e oferecer ao Planalto a oportunidade de convencer senadores a retirarem suas assinaturas do requerimento. Até a noite desta quinta-feira (11), havia no documento 31 jamegões. Para enviar a CPI ao arquivo, o Planalto precisa passar na lámina pelo menos quatro assinaturas.



Por Josias de Souza

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