terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Bolsonaro vê a 'virtude' como um trissílabo banal



Escorraçado do Planalto por Jair Bolsonaro há um ano sob a acusação de ter cometido uma "imoralidade", José Vicente Santini está de volta à sede do governo. O retorno do personagem reforça a percepção de que, na gestão do capitão, a virtude é uma qualidade virtual.

Em janeiro de 2020, Santini era o número dois da Casa Civil. Virou notícia ao voar em jato da FAB para a Suíça e, de lá, para a Índia, onde se encontrava Bolsonaro. Gente graúda do governo, como o czar da Economia Paulo Guedes, fez o mesmo trajeto em avião de carreira.

"É imoral" e "inadmissível", sentenciou Bolsonaro depois que Santini foi pendurado nas manchetes de ponta-cabeça. Enviado ao olho da rua pelo presidente, Santini seria recontratado no dia seguinte para uma outra função. Permaneceria no Planalto, amargando uma perda salarial de apenas R$ 300.

A recontratação pegou mal. E Bolsonaro correu às redes sociais para informar que tornaria o retorno "sem efeito." O tempo passou. Em setembro do ano passado, Santini virou assessor do ministro antiambiental Ricardo Salles. Agora, volta ao Planalto para ser o número dois de outra pasta: a Secretaria-Geral da Presidência.

A Secretaria-Geral é comandada interinamente por Pedro Cesar de Souza. Logo será substituído por Onyx Lorenzoni, que terá de entregar o Ministério da Cidadania a um preposto do centrão. Na época do voo "imoral", Onyx era o chefe de Santini na Casa Civil. Mas não é a Onyx que o passageiro da FAB deve a volta triunfal.

Santini é amigo de infância dos filhos de Bolsonaro. Achegou-se especialmente ao Zero Três Eduardo Bolsonaro. Mas tem boas relações também com Flávio e Carlos, os outros zeros da família.

No fundo, o entra-e-sai de Santini revela que Bolsonaro enxerga a virtude como um trissílabo qualquer, tão banal quanto balela. Natural. Afinal, diante da imagem rachadinha da primeira-família, dos R$ 89 mil depositados pelo casal Queiroz na conta da primeira-dama Michelle, do casamento com o centrão... Diante de tudo isso, um voo "imoral" nas asas da FAB acaba virando asterisco.

Por Josias de Souza

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