Na definição do humorista Max Nunes, o "casamento é como a pessoa que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca". Ocorre algo parecido no matrimônio de Jair Bolsonaro com o centrão. A diferença é que Paulo Guedes imagina que o Planalto comprou uma vaca, de cuja ordenha serão extraídas as reformas econômicas pendentes de votação. Nesse contexto, a aprovação da autonomia do Banco Central é apenas um copo de leite.
O ministro da Economia e o líder do centrão Arthur Lira, novo presidente da Câmara, priorizaram o BC porque a proposta estava, por assim dizer, sobre a bandeja, esperando para ser sorvida. O Senado já havia aprovado. Segue agora para a sanção de Bolsonaro como uma sinalização ao mercado de que a "vaca" das reformas abandonou o caminho do brejo.
Corre em via paralela um debate que desaconselha o otimismo precoce. Discute-se a concessão de um novo auxílio emergencial aos brasileiros que enfrentam a pandemia sem ter como encher a geladeira. Guedes condiciona a providência à aprovação de cortes. Os parlamentares se fingem de mortos. Alegam que as reformas podem esperar, a fome não.
Impossível prever quantos copos de leite os úberes do centrão serão capazes de prover. Mas a aprovação da proposta sobre a independência do Banco Central, o item menos relevante da pauta liberal de Guedes, não assegura que reformas mais complexas —a tributária e a administrativa, por exemplo— serão destravadas.
Por Josias de Souza
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