Tudo o que os políticos dizem em público não vale nada se confrontado com o que se ouve atrás das paredes. Gravada em vídeo e exposta nas redes sociais, a conversa supostamente privada entre o deputado Guilherme Boulos, postulante do PSOL à Prefeitura de São Paulo, e o apresentador José Luiz Datena, candidato a qualquer coisa ou a coisa nenhuma, trouxe para o centro do palco um espetáculo revelador sobre a autofagia da esquerda. Ficou evidente que Boulos acha que Lula e a vertente canibal do PT desejam mastigá-lo.
No gogó, Boulos firmou um acordo com Lula. Prevê que o campeão de votos do PSOL disputará a prefeitura paulistana em 2014, com um vice do PT. Na mandíbula, o petismo começa a roer a corda, para lançar um candidato próprio. No diálogo vazado, Datena se ofereceu como vice de Boulos. Insinuou que o interlocutor terá que "peitar o Lula". Boulos soou como se concordasse: "Esse é o tema".
Datena soltou a língua. Colocou em dúvida a capacidade de Lula de lidar com a economia. "Não sei se aguenta o mandato", exagerou. Insinuou que Lula pode virar uma bola de ferro para Boulos. Desmereceu a companhia do petismo "O PT é um partido corrupto", disse. Boulos ouvia em silêncio. De repente, disse um sintomático "é verdade" ao ouvir o interlocutor comentar que o PT "tem feudos", não gosta dele e tampouco aprecia Lula.
Sintomaticamente, a divulgação do vídeo parece ter destravado as vozes dos feudos petistas. Até aqui, baseando-se em tudo o que era dito em público, a plateia acreditava que Boulos e o PT tinham um acordo. Agora, confrontada com o vídeo gravado atrás das paredes, a audiência percebe que os atores confiam muito uns nos outros, apenas mentem um pouco.
Por trás do canibalismo há um aroma de 2026. Na visão hegemônica dos feudos petistas, Boulos está para esquerda assim como Tarcísio de Freitas está para a direita. Ambos são vistos como alternativas à polarização.
Assista ao vídeo:
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