sexta-feira, 21 de abril de 2023

Nome do problema é Lula, não Gonçalves Dias



A maior injustiça que se pode cometer com o general expurgado da chefia do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República é atribuir-lhe toda a responsabilidade pela inclusão do governo no polo passivo das investigações sobre o 8 de janeiro. O nome do problema é Lula, não Gonçalves Dias.

Deve-se a Lula o fato de o Planalto ter sido arrastado para uma ribalta que vinha sendo monopolizada por Bolsonaro e pelo bolsonarismo. O presidente cometeu dois erros crassos. Num, Lula travou em janeiro a instalação de uma CPI sobre o golpismo que seria instalada no Senado por iniciativa dos seus aliados. Noutro equívoco capital, Lula se absteve de afastar o amigo Gonçalves Dias nas pegadas dos atos golpistas.

As evidências demonstraram que a ação dos vândalos que depredaram a sede do governo foi facilitada pela inação de integrantes das Forças Armadas que deveriam proteger o Planalto. Impactado pela solidez dos indícios de inépcia dos hipotéticos guardiões da sede do governo, Lula determinou o afastamento de militares bolsonaristas que sobreviveram à alternância no poder. Ordenou também a higienização e o esvaziamento do GSI. Mas forneceu proteção ao general que comandava o órgão.

Agora, o governo é compelido pelas circunstâncias a participar de uma CPI mista convocada por iniciativa do bolsonarismo. E enfrenta o constrangimento de admitir que o general protegido por Lula foi, no mínimo, incompetente e omisso no cumprimento de suas atribuições mais elementares. A admissão tornou-se incontornável diante da divulgação do vídeo que expôs Gonçalves Dias desfilando sua complacência em meio aos criminosos que vandalizaram um prédio público que ele tinha a obrigação funcional de proteger.

A Polícia Federal marcou para quarta-feira da semana que vem o depoimento de Bolsonaro no pedaço do inquérito que tem o objetivo de identificar os autores intelectuais da trama golpista que desaguou no quebra-quebra das sedes dos Três Poderes. Na segunda-feira, será reinquirido, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o multi-investigado Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

Antes, também por ordem de Moraes, a PF colherá, em pleno feriado de sexta-feira, o depoimento do general Gonçalves Dias, agora suspeito de ter contribuído, por omissão, na execução dos atos golpistas.

Nesta quinta-feira, véspera do interrogatório do general, perguntou-se a Lula se ele ficou chateado com a demissão do amigo Gonçalves Dias. E o presidente: "Não. Ele saiu por conta própria". Como se vê, a ficha de Lula demora a cair. Foi por conta própria que o presidente da República forçou o seu governo a dividir os refletores que Bolsonaro e seus devotos acenderam.

O prejuízo político é eloquente. Num instante em que deveria estar concentrado no desafio de aprovar suas propostas econômicas no Congresso, o Planalto desperdiça energias numa articulação para evitar que a milícia legislativa de Bolsonaro assuma a presidência, a relatoria e o enredo da futura CPI.

Tenta-se postergar a instalação da CPI para depois do dia 10 de maio, data que Arthur Lira estimou para a aprovação na Câmara da proposta sobre a nova regra fiscal elaborada pelo Ministério da Fazenda. A primeira consequência é um aumento do preço do apoio ao governo. A perspectiva de uma investigação legislativa ruidosa é vista pela banda fisiológica do Legislativo como fabulosa oportunidade de negócios.

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