terça-feira, 18 de abril de 2023

Brasil nada ganha e perde muito



Para evitar um novo mandato de Jair Bolsonaro, que seria terrível para o País, milhões de eleitores votaram em Lula da Silva mesmo sem concordar com os dogmas retrógrados do PT. Mas Lula da Silva e o PT não parecem dispostos a fazer nenhuma concessão a esses eleitores – ao contrário, o chefão petista poucas vezes foi tão fiel à ideologia carcomida que reduz tudo à luta de classes.

Não pode ser outra a explicação para o comportamento de Lula em sua recente viagem à China, ocasião em que transformou o Brasil em sabujo dos interesses chineses só e exclusivamente para se distanciar dos Estados Unidos, o velho vilão da esquerda brasileira.

No afã de parecer independente dos americanos, Lula esteve a um passo de alinhar o Brasil à Rússia na guerra criminosa de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Não se sabe exatamente o que o Brasil ganhou com esses gestos tresloucados de Lula, mas sabe-se o que está perdendo: sua tradicional imagem de país equilibrado, neutro em relação aos principais conflitos, mas defensor intransigente dos direitos humanos – como, aliás, está expresso no artigo 4.º da nossa Constituição. Isso sem falar em ruídos desnecessários com parceiros relevantes, como Estados Unidos e Europa.

Na viagem à China, Lula se destacou por sinalizar o alinhamento do Brasil a uma ordem internacional baseada no autoritarismo e na força em oposição a uma ordem baseada no direito internacional e na valorização dos direitos humanos, do pluralismo político e das liberdades civis. Tudo a pretexto dos “interesses econômicos”.

De fato, as transferências tecnológicas da China são do interesse do Brasil. Para simbolizá-lo, Lula poderia visitar um dos muitos fornecedores chineses. Mas selecionou a dedo a Huawei, epicentro de um entrevero no Ocidente por suspeita de espionagem, e lá bradou que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”.

Lula também resolveu bajular os chineses ao defender a substituição do dólar pela moeda chinesa nas transações internacionais, sugerindo que a prevalência do dólar é mais um sinal do imperialismo americano. Em um par de frases, deixou claro que, obnubilado pela ideologia, desconhece que o mundo prefere negociar com uma moeda emitida pelo banco central autônomo da maior democracia do mundo, cujos pesos e contrapesos impedem que o câmbio e o fluxo de capitais sejam controlados por um autocrata, como é na China.

Mas um dos pontos altos do vexame da viagem de Lula foi o momento em que, ao falar da guerra na Ucrânia, voltou a equiparar o agressor, a Rússia, ao agredido, a Ucrânia, e a condenar os EUA e a Europa por ajudarem os ucranianos a restaurarem sua soberania. As declarações de Lula não produziram nada a não ser indignação e indiferença e não melhoraram um centímetro a posição do Brasil na pretensão de integrar o time de mediadores do conflito. Hoje, aliás, o Brasil, graças à loquacidade irresponsável de Lula, é cada vez mais visto como não confiável, por sua aparente simpatia por russos e chineses. Em visita ao Brasil, o chanceler russo, Serguei Lavrov, não deixou por menos: “As visões do Brasil e Rússia são únicas”, numa referência à Ucrânia. Não foi desmentido pelo governo brasileiro – e nem poderia, porque Lula disse textualmente que a Ucrânia é tão culpada pela guerra quanto o país que a invadiu.

Em outro momento particularmente irresponsável, Lula resolveu apoiar “fortemente” a China na sua querela com a democrática Taiwan. Mesmo que a declaração não mude o entendimento tradicional do Brasil, ela poderia ser evitada no momento em que a China ameaça retomar Taiwan à força, desafiando os Estados Unidos.

Como se observa, Lula entregou dedos e anéis aos chineses e russos em troca de um punhado de acordos comerciais pouco relevantes, e sem levar nem mesmo um protocolar apoio à pretensão brasileira de integrar permanentemente o Conselho de Segurança da ONU. Lula quer se apresentar como um dos grandes estadistas do mundo. Se depender do que se viu na viagem à China, será visto apenas como peão no Grande Jogo chinês – ou, para usar as palavras benevolentes da revista Economist, como “ingênuo”.

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