quarta-feira, 12 de abril de 2023

Barracos da Câmara desafiam Darwin, não Dino



A milícia parlamentar bolsonarista elegeu Flávio Dino como adversário preferencial. Aborrecidos com o esforço do ministro da Justiça para retirar armas de circulação, requisitaram sua presença na Câmara duas vezes em 14 dias —uma na Comissão de Constituição e Justiça, outra na Comissão de Segurança. As sessões terminaram em bate-boca. Desqualificando-se, os apoiadores de Bolsonaro qualificaram o ministro. Desafiaram Darwin, não Dino.

Ao transformar em barraco a arguição de Dino na comissão de Justiça, a mais importante da Câmara, bolsonaristas e governistas pareciam decididos a provar que o ser humano parou de evoluir. Nesta terça-feira, ao converter a sessão da comissão de Segurança numa reincidência da baixaria, os deputados mostraram que, na verdade, já estão fazendo o caminho de volta.

A tentativa de ouvir Dino na comissão de Segurança foi suspensa por falta de segurança. As interrupções às falas do ministro descambaram para a troca de insultos e palavrões. O bolsonarista Paulo Bilynskyj disse que a opção pelo desarmamento iguala Lula a Adolf Hitler, Mao Tsé-Tung, Josef Stalin e Fidel Castro. Foi ecoado por Eduardo Bolsonaro. Dino tachou a comparação de indevida.

Desarmada pela Suprema Corte, Carla Zambelli disparou contra o governista Duarte Júnior um "vai tomar no cu". Duarte chamou de "velho" o deputado General Girão, que exigiu "respeito". Os dois roçavam o peitoral quando foram apartados. O deputado Márcio Jerry disse ter ouvido do colega Gilvan da Federal convite para resolver as diferenças "lá fora", no braço. Ao se retirar, Dino ouviu um coro de "fujão".

Quando era apenas um neandertal, o hominídeo dispunha de uma caixa craniana maior. Mas não tinha a linguagem dos parlamentares, embora os grunhidos fossem parecidos. O objetivo da evolução era dar voz à humanidade, nome às coisas e um enredo para o universo. Mantido o clima atual, um macaco originário logo irromperá no plenário da Câmara para perguntar aos 513 deputados: "Valeu a pena?"

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