terça-feira, 4 de abril de 2023

Base congressual de Lula é sólida como gelatina


Lula toma posse no Plenário da Câmara dos Deputados Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O diagnóstico ainda não foi feito, talvez por misericórdia, mas a articulação política do Planalto neste começo do terceiro mandato de Lula pode ser definida como um fiasco. Há um inusitado descompasso no tradicional toma lá, dá cá. O governo deu muito. Mas não recebe nada em troca desde a aprovação da PEC da transição, antes da posse. Às vésperas de completar cem dias, a nova administração dispõe de uma base congressual sólida como um pote de gelatina.

Atropelado por uma disputa de poder entre as cúpulas da Câmara e do Senado, Lula ainda não conseguiu aprovar uma mísera medida provisória. O envio da proposta sobre a nova regra para conciliar gastos e receitas foi adiado para a próxima semana. Os votos necessários à aprovação —257 na Câmara e 41 no Senado— ainda não estão no embornal. A emenda constitucional da reforma tributária exigirá quórum ainda mais qualificado —308 deputados e 49 senadores.

Nos bastidores, o ministro Alexandre Padilha, negociador oficial do Planalto, é crivado de críticas. Mas não há propriamente falta de articulação. Ao contrário, há um excesso de articuladores. Lula é, ele próprio, um articulador. Tentou, sem sucesso, apartar a briga entre Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Também o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniu-se com líderes da Câmara e do Senado.

Além do centrão, formou-se no Legislativo um blocão alternativo. Por um lado, a novidade dilui os poderes de Arthur Lira, o imperador da Câmara. Por outro, cria um novo foco de chantagens. Mal comparando, os blocos partidários passaram a operar como consórcios de automóveis. Exigem o pagamento em prestações de favores, empregos e verbas. Para arrematar a mercadoria —ou as reformas—, o Planalto terá que fazer grandes lances.

Há, de resto, parlamentares operando em faixa própria, acima das lideranças. São articuladores de si mesmos. Preferem comercializar seus votos num varejão que concorre com o atacado dos blocos. Estima-se que Lula conseguirá aprovar suas proposições. Entretanto, pagará mais caro do que o habitual. E terá que administrar os ajustes nos textos originais. Respira-se no Congresso uma atmosfera de bazar.

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