quinta-feira, 27 de abril de 2023

Bolsonaro mentiu em depoimento sobre o 8/1


O ex-presidente Jair Bolsonaro ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde prestou depoimento sobre os atos de 8/1 Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Em depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira, Bolsonaro disse ter compartilhado sem querer e sob efeito de remédios um vídeo no Facebook com insinuações de que a vitória de Lula foi fraudada. O ex-presidente mentiu. Foi Carlos Bolsonaro quem realizou a postagem no Facebook do pai. A peça foi apagada horas depois.

Graças à propagação do vídeo, 48 horas após os ataques golpistas de 8 de janeiro, Bolsonaro foi incluído por Alexandre de Moraes como investigado no inquérito 4.921. Nele, apura-se a "instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos" que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

O vídeo reproduzido por Carluxo no perfil do pai exibia entrevista em que o procurador bolsonarista de Mato Grosso do Sul Felipe Gimenez difundia mentiras sobre as eleições de 2022. Gimenez afirmou que Lula foi "escolhido pelo serviço eleitoral e pelos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral". Na legenda da post, lia-se: "Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE".

"Este vídeo foi postado na página do presidente no Facebook quando ele tentava transmitir para o seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente", disse o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, na saída do prédio da Polícia Federal, em Brasília. "Por acaso, justamente nesse período, ele estava internado em um hospital em Orlando. Foi feita de forma equivocada. Tanto que pouco depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente retirou a postagem."

A versão não corresponde aos fatos. Conforme já foi noticiado aqui, Carlos Bolsonaro dispõe das senhas dos perfis mantidos pelo pai nas redes sociais. Um ex-ministro de Bolsonaro contou na época que o filho compartilhou o vídeo sem o conhecimento do ex-presidente. Nem precisava. A veiculação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral e as urnas era como arroz de festa nas redes geridas pelo filho Zero Dois do capitão.

Bolsonaro foi interrogado no âmbito do inquérito 4.921. Apura os responsáveis pela "instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos" que resultaram na invasão e depredação das sedes do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Planalto. A Polícia Federal coleciona dados para fundamentar uma reinquirição de Bolsonaro.

No despacho em que deferiu o pedido da Procuradoria-Geral da República para incluir Bolsonaro no inquérito, Alexandre de Moraes anotou que a difusão de mentiras no Facebook do capitão "se revelou como mais uma das ocasiões em que o então mandatário se posicionou de forma, em tese, criminosa e atentatória às instituições".

Moraes enfatizou que Bolsonaro, por reincidente, "incorre nas mesmas condutas". Mencionou outros inquéritos que tramitam no Supremo. Entre eles os que investigam a atuação de milícias digitais, a disseminação de notícias falsas sobre vacinas contra a Covid e o vazamento de investigação de ataque aos computadores do Tribunal Superior Eleitoral.

Para Moraes, Bolsonaro pode ter contribuído, "de maneira muito relevante", para insuflar os atos golpistas que depredaram prédios públicos na versão brasiliense do Capitólio. Anotou que as "condutas" de Bolsonaro podem estar relacionadas com "intensas reações por meio das redes virtuais, pregando discursos de ódio e contrários às instituições, ao Estado de Direito e à democracia".

Alexandre de Moraes foi ao ponto: "Efetivamente, a partir de afirmações falsas, reiteradamente repetidas por meio de mídias sociais e assemelhadas, formula-se uma narrativa que, a um só tempo, deslegitima as instituições democráticas e estimula que grupos de apoiadores ataquem pessoalmente pessoas que representam as instituições, pretendendo sua destituição e substituição por outras alinhadas ao grupo político do ex-presidente e, de maneira ainda mais grave, instiga que apoiadores cometam crimes de extrema gravidade contra o Estado Democrático de Direito, como aqueles ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023."

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