quarta-feira, 12 de abril de 2023

Suposta base parlamentar de Lula entra em combustão antes de ser testada


Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Lula e seus operadores políticos sustentam que o governo dispõe de apoio sólido no Congresso. Os cardeais do fisiologismo condicionam a solidez do amparo à distribuição de novos favores, cargos e verbas. Sob nova direção há mais de quatro meses, o Planalto não promoveu uma mísera votação capaz de medir a fidelidade dos aliados. Nem as medidas provisórias editadas por Lula no dia da posse foram levadas a voto. Antes do primeiro teste, o União Brasil, maior partido do que seria o condomínio governista, pegou fogo.

Em litígio com a cúpula da legenda, a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, e outros cinco deputados do Rio de Janeiro pediram autorização à Justiça Eleitoral para tomar o rumo da porta de saída. Querem se mudar para o Republicanos, que ainda não acertou seu preço com Lula. Farejando o cheiro de queimado, o comando do União Brasil avisou ao Planalto que a pasta do Turismo é do partido, não de Daniela. Quer dizer: confirmando-se o desembarque, ou Lula troca a ministra por outro filiado ou a carta de um União Brasil já bem desunido sai do baralho do governo antes de ter entrado.

Nascido de uma cruza dos lobos do PSL com as raposas do DEM, o União veio à luz no ano passado. Nasceu como um centauro, com a cabeça nas alturas de um liberalismo abstrato e as patas nas baixezas de um patrimonialismo concreto.

Além de Daniela do Waguinho, que levou para a Esplanada o rastro pegajoso de suas relações políticas com milicianos cariocas, a legenda é representado no primeiro escalão do governo por Juscelino Filho, o ministro manga larga das Comunicações, e por Waldez Góes, que tem um pé no PDT e chegou à pasta da Integração Nacional acompanhado de uma condenação por improbidade e um bloqueio judicial de bens de R$ 797 mil.

As indicações são atribuídas ao senador Davi Alcolumbre. Disseminou-se a avaliação segundo a qual Lula comprou de Alcolumbre um terreno na Lua, pois o União Brasil se declara "independente" no Congresso. A alegada independência não impediu a legenda de pegar em lanças para manter na poltrona de chefe das Comunicações Juscelino, o criador de cavalos e de suspeições.

A suposta base governista entrou em combustão às vésperas da chegada ao Congresso da proposta sobre a nova regra fiscal, vista como primeira prova de fogo do Planalto. Informado sobre as labareda do União Brasil horas antes de embarcar para a China, Lula delegou o extintor ao ministro petista Alexandre Padilha, seu articulador político. Seja qual for o tamanho do incêndio, o rescaldo tornará mais cara a aprovação da regra que deveria ajudar na sedação da dívida pública.

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