segunda-feira, 10 de abril de 2023

1.360 dias separam Lula do sucesso ou da ruína



Em 100 dias de governo, Lula ajudou a vestir camisa de força no golpismo, retirou a Esplanada dos Ministérios do sanatório, estabilizou as relações do Executivo com os outros Poderes e restaurou políticas sociais que Bolsonaro aviltara. Não foi pouca coisa. Mas o próprio presidente está incomodado com a sensação de dèjá vu. O relançamento de antigos programas, prioridade dos primeiros dias, apenas devolveu a Lula uma marca social que ele já havia conquistado no passado.

Há sete dias, num encontro com 20 ministros, o presidente disse tudo. "A gente vai ter que anunciar o que vamos fazer para frente, porque os cem dias vão fazer parte do passado." Nesta segunda-feira, após consolidar o balanço inaugural em nova reunião ministerial, Lula inicia a contagem regressiva que importa. Ainda dispõe de 1.360 dias para realizar um governo que transmita uma simbologia contemporânea. A nova marca pode ser boa ou ruinosa. Tudo depende do desempenho da economia.

Nessa área, o governo teve um mau começo. Operou com a barriga. Nem sinal do Desenrola, o programa que retiraria o brasileiro do SPC. O salário mínimo R$ 1.320, prometido para janeiro, ficou para 1.º de maio. A isenção do Imposto de Renda, que valeria para quem ganha até R$ 5 mil, beneficiará apenas quem recebe até R$ 2.640. A nova regra fiscal, após sucessivos adiamentos, deve ser enviada ao Congresso até sexta-feira. A caça aos jabutis do sistema tributário, pré-condição para o equilíbrio fiscal, só começa no segundo semestre. Nem sinal da reforma tributária.

Segundo uma lei não escrita, novos governos têm direito a a cem dias de tolerância. Mas a conjuntura sonegou a Lula a fase da lua de mel. Teve que se deitar com o centrão antes da posse, para remendar o Orçamento federal. A lua de mel começou com uma inundação da suíte nupcial, no 8 de janeiro.

A banda bandalha do Congresso condiciona o futuro do matrimônio ao patrimônio. Pode-se arriscar a previsão de que a faísca do próximo escândalo sairá desse relacionamento promíscuo. Resta a Lula um consolo. Na oposição, a única novidade é que Bolsonaro será indiciado pela Polícia Federal no caso dos diamantes sauditas antes de ser declarado inelegível pelo TSE.

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