segunda-feira, 17 de abril de 2023

Antes de obter paz na Ucrânia, Lula precisa pacificar suas próprias ideias



Lula tenta obsessivamente virar mediador do conflito entre Rússia e Ucrânia. Sugere a formação de um clube de nações neutras. Falta definir neutralidade. Por qualquer critério que se utilize, Lula está se descredenciando para o papel de negociador neutro. Ao recepcionar em Brasília o chanceler russo Sergei Lavrov, Lula reforça a impressão de que já tem um lado. Escolheu justamente o lado que não orna com a tradição brasileira.

Em política externa, a absoluta isenção é uma fantasia. A neutralidade que o Itamaraty tradicionalmente cultuava era a de não ser injusto. Isso costumava incluir o respeito à soberania alheia e o reconhecimento de que um país tem o direito de defender a sua integridade territorial.

No início do mês, Lula enviou o assessor internacional Celso Amorim a Moscou, para uma conversa com Vladimir Putin. Neste final de semana, no caminho de volta de uma viagem à China, aliada da Rússia, Lula repetiu a tese segundo a qual a Ucrânia também é responsável pela guerra. Mal posou em Brasília, recebe Lavrov.

Não é que Lula não veja uma solução para a guerra. O que ele não enxerga é o problema. Meteu-se num zigue-zague retórico . No ano passado, disse à revista Time que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky "é tão responsável quanto o Putin". Em fevereiro passado, chamou a invasão de "erro histórico" de Putin. Depois, avalizou o sensato voto brasileiro na Assembleia Geral da ONU favorável ao respeito à soberania da Ucrânia. Dias atrás, em café da manhã com jornalistas, Lula deu bom dia absurdo ao insinuar que a Ucrânia poderia ceder à Rússia o território da Crimeia, anexado na mão grande por Moscou em 2014.

A lógica, como a vodca, perde o seu efeito benéfico quando usada em quantidade exagerada. A neutralidade, segundo a lógica etílica de Lula, tornou-se um método sistemático de chegar à conclusão errada com muita confiança. Lula sonha com o Nobel da Paz. Entretanto, antes de obter a paz na Ucrânia, precisa pacificar suas ideias.

Nenhum comentário: