terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Orçamento trata o bolso do contribuinte como um portão da Casa da Mãe Joana



Primeiro a boa notícia: Bolsonaro sancionou o Orçamento federal. Eliminaram-se as dúvidas sobre como será gasto em 2022 o dinheiro arrancado do bolso do contribuinte. Agora uma notícia ruim: o Orçamento acorrentou o Tesouro Nacional a um varejão que inclui as seguintes pechinchas: R$ 4,9 bilhões para os políticos gastarem nas suas próprias campanhas; R$ 35 bilhões para os parlamentares despejarem nos seus redutos eleitorais, sendo R$ 16,5 bilhões por meio de emendas que ocultam os nomes dos beneficiários; e R$ 1,7 bilhão para Bolsonaro manter no forno a má ideia de mimar a Polícia Federal com um reajuste salarial fora da curva.

Finalmente, a péssima notícia: mantiveram-se intactos os gastos eleitoreiros, paroquiais e corporativos que levaram Executivo e Legislativo a tratar o bolso dos contribuintes como se fosse o portão de acesso à Casa da Mãe Joana, mas foram passados na lâmina verbas destinadas a áreas como Trabalho, Educação, Saúde, INSS, pesquisa científica, proteção social e assistência aos índios e quilombolas. Perdeu-se de vista a noção de que, ainda submetido aos rigores da pandemia, o país precisaria reforçar o sistema de saúde, apostar na pesquisa cientifica, oferecer suporte a estudantes que desaprenderam e investir na criação de empregos.


Há o argumento de que nada se fez com o Orçamento atual que os outros já não tivessem feito. Essa desculpa escamoteia o fato de que os vícios foram repetidos em escala jamais vista. Antes, os parlamentares mordiam beiradas do Orçamento. Agora, o centrão toma o Planalto de assalto, ocupa a Casa Civil e tem a palavra final sobre a tesoura. Desmoralizou-se o marco fiscal com um calote nas dívidas judiciais. Empurrou-se para dentro do próximo governo uma bomba relógio.

Ironicamente, associaram-se na irresponsabilidade aliados e opositores do governo. Todos se lambuzam no fundão eleitoral. E a maioria se inscreve na planilha do Arthur Lira.

O vencedor da sucessão de 2022, seja ele quem for, chegará ao Planalto infectado pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente da República: a ilusão de que preside. Não será fácil recuperar o Orçamento.

Por Josias de Souza

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