Nem as férias prolongadas amansaram Jair Bolsonaro. O capitão voltou a Brasília com o radicalismo de sempre. Em uma semana na capital, já atacou o Supremo, o Congresso, os governadores e o diretor da Anvisa, que ele mesmo nomeou.
Na quarta-feira, o presidente usou um site governista para despejar sua fúria. Acusou o Supremo de persegui-lo e vociferou contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. “Quem esses dois pensam que são?”, desafiou.
Investigado em cinco inquéritos na Corte, Bolsonaro tentou carimbar os juízes como “defensores do Lula”. Conversa fiada. Barroso e Moraes ficaram vencidos no julgamento que derrubou a prisão em segunda instância. A depender deles, o ex-presidente ainda estaria em Curitiba.
O capitão também esbravejou contra a CPI da Covid, que investigou os crimes do governo na pandemia. Além de repetir a ladainha contra a vacina, declarou que a variante Ômicron é “bem-vinda” no Brasil. Um diretor da OMS se viu obrigado a contestar o disparate. “Nenhum vírus que mata é bem-vindo”, disse o irlandês Michael Ryan.
A nove meses das urnas, o presidente voltou a mentir sobre o voto eletrônico. Repetiu a lorota de que em 2018 houve eleitores que apertaram seu número e viram a foto de Lula. O petista não estava na lista de candidatos, mas a usina de fake news não se prende a esses detalhes.
É perda de tempo esperar um Bolsonaro menos radical em 2022. O capitão se elegeu com discurso, figurino e plataforma de extremista. Agora depende das mesmas armas para se manter vivo no jogo. A cartinha de Michel Temer já ficou para trás. Até outubro, ele fabricará muitos conflitos para atiçar a tropa e desviar a atenção de problemas reais, como a inflação e o desemprego.
Bolsonaro sabe que não será fácil bancar o outsider depois de quatro anos no poder. Na entrevista de quarta, ele cometeu um ato falho e violou uma regra básica da política: um candidato jamais admite a hipótese de ser derrotado. “Nós estamos conversando aqui, mas com o Lula presidente, podemos não mais conversar. Você como repórter, eu como ex-presidente...”, escorregou, antes de agitar o espantalho do “controle da mídia” contra o rival.
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