Os brasileiros entram mais pobres em 2022, com a renda familiar corroída pelo desemprego e pela inflação e sem perspectiva de melhora sensível nos próximos meses. Os preços ao consumidor subiram 10,42% nos 12 meses até dezembro, segundo a prévia da inflação oficial, superando amplamente a meta (3,75%) e o limite superior de tolerância (5,25%). A correção salarial, negociada com muita dificuldade num ambiente de baixa atividade econômica, ficou longe de compensar as perdas acumuladas. Até novembro, os trabalhadores com carteira assinada conseguiram reajuste médio de 6,5%, no setor privado, embora os preços pagos por bens e serviços consumidos tenham subido 8,4%, no período de um ano, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para negociações salariais.
Só 19% das negociações proporcionaram ajustes de salários superiores à inflação acumulada até novembro, indica o “Salariômetro” coordenado pelo professor Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia e Administração da USP. “Quando existe desocupação muito grande, os sindicatos não têm poder de barganha nas negociações. É o pior cenário para os trabalhadores”, disse o economista, citado em reportagem do Estadão. O levantamento apontou reajustes abaixo da inflação em 51% dos acordos e empate em 30% do total.
A desvantagem dos assalariados, nas discussões sobre salários, foi evidenciada por todas as pesquisas sobre mercado de emprego publicadas durante o ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de algum aumento na oferta de postos de trabalho, as condições permaneceram muito desfavoráveis.
A última pesquisa, referente ao trimestre móvel de agosto a outubro, apontou 12,9 milhões de pessoas desempregadas, 12,1% da força de trabalho. Somados os desocupados, os desalentados e outros subaproveitados, o total dos subutilizados ficou em 29,9 milhões de pessoas, 25,7% da população ativa.
O desemprego no Brasil tem sido, há mais de um ano, superior ao dobro da média registrada nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Como a inflação também tem superado, com muita folga, as taxas observadas na maior parte das economias emergentes e desenvolvidas, o empobrecimento no Brasil tem sido diferenciado.
No caso do Brasil, as oscilações da política econômica, associadas às falhas na definição de rumos pelas autoridades federais, têm agravado as condições das pessoas mais vulneráveis. Com os programas emergenciais implantados no início da crise sanitária, os brasileiros abaixo da linha da pobreza definida pelo Banco Mundial diminuíram de 25,9% em 2019 para 24,1% em 2020 – quase 51 milhões de pessoas com menos de R$ 450 por mês. Com a suspensão do auxílio emergencial no início de 2021, milhões afundaram na miséria e passaram a enfrentar a fome.
A retomada do auxílio emergencial a partir de abril proporcionou algum alívio, mas a pobreza permaneceu disseminada, com as famílias assombradas no dia a dia pelas péssimas condições do mercado de trabalho e pela inflação crescente. O surto inflacionário foi especialmente penoso, a partir do meio de 2021, por causa do encarecimento de itens essenciais, como alimentos, eletricidade e gás de cozinha. Durante a maior parte do ano, as autoridades federais permaneceram alheias ao drama da maior parte da população. Campanhas de auxílio às comunidades pobres, com participação de organizações civis e de indivíduos de boa vontade, atenuaram um pouco as dificuldades.
A evolução dos negócios e do emprego ficou, na maior parte do ano, muito distante do universo descrito nas falas otimistas do ministro da Economia, Paulo Guedes. O crescimento econômico em 2021, agora estimado em torno de 4,5%, apenas deve compensar a perda ocorrida em 2020. O crescimento estimado para 2022, dificilmente superior a 0,5%, será insuficiente para a redução da pobreza. Não faltará dinheiro, no entanto, pelo menos para o Centrão, onde se acomodam os aliados do presidente Jair Bolsonaro.
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