Na campanha presidencial de 2006, quando mediu forças com Geraldo Alckmin, Lula grudou no então rival o carimbo de privatista. Disse que ele venderia as estatais que Fernando Henrique Cardoso não teve tempo de leiloar quando passou pelo Planalto. Nessa época, o tucanato escondia FHC. Alckmin limitou-se a negar que planejasse vender a Petrobras e o Banco do Brasil, abstendo-se de defender o correligionário. Passados 16 anos, Lula empurra sua criatura Dilma Rousseff para o armário e transforma o ex-tucano Alckmin numa espécie de herói do petismo na cruzada anti-Bolsonaro.
Na mesma entrevista em que declarou que a conversão de Alckmin em vice de sua chapa será bom para o país, Lula descartou a hipótese de utilizar a mão de obra de Dilma no seu eventual terceiro mandato. "O tempo passou, tem muita gente nova no pedaço...", declarou. Na definição de Lula, Dilma é "tecnicamente inatacável", mas "erra na política". Não tem "paciência" para "conversar" com políticos e rir das piadas que já conhece.
Sob Dilma, a economia brasileira encolheu 6,8%. Graças ao seu governo empregocida, a taxa de desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de trabalhadores. Lula e o PT só lembram de Dilma quando querem fazer pose de vítimas de um "golpe". O diabo é que madame foi deposta por seus aliados, sob regras constitucionais, numa sessão presidida pelo amigo Ricardo Lewandowski, que representava a Suprema Corte.
Na visão idílica do PT, o abismo econômico foi cavado pelo MDB de Eduardo Cunha e de Michel Temer. O diabo é que, no limite, Lula é o principal responsável pela perversão. Foi nos mandatos de Lula, sobretudo no segundo, que o MDB de Temer virou sócio do PT na indústria de propinas. Foi Lula quem abençoou a conversão de Temer em vice na chapa de Dilma, vendida por ele como "gerentona infalível".
Lula agora precisa explicar ao eleitor porque o ex-rival Alckmin virou herói da resistência e Dilma recebe o tratamento de um estorvo anacrônico, como um bambolê sem cintura política, uma esquisitice antiga.
Por Josias de Souza
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