A CPI da Covid deve pedir o indiciamento de Jair Bolsonaro pela prática de 11 crimes. O presidente é o protagonista do relatório que será apresentado na terça-feira. Ele será apontado como responsável pelo agravamento da pandemia que já matou mais de 600 mil brasileiros.
Bolsonaro não inventou o coronavírus, mas se aliou a ele contra a população que deveria proteger. Ajudou a espalhar a doença, sabotou as medidas sanitárias, pregou o uso de remédios ineficazes e atrasou intencionalmente a compra de vacinas.
Enquanto o capitão negava a ciência, picaretas tentavam faturar com a tragédia. Eles atuaram no Ministério da Saúde, transformado num antro de negociatas, e no setor privado, onde operadoras de saúde fraudaram até atestados de óbito.
A barbárie teve o apoio de uma rede de desinformação. O bolsonarismo usou sua máquina do ódio para torpedear o distanciamento social, o uso de máscaras e a confiança nas vacinas. O objetivo era claro: desviar a responsabilidade pelas mortes e desgastar gestores que acreditaram na ciência.
O desgoverno não é produto só de negacionismo e irresponsabilidade. O presidente acelerou a circulação do vírus para tentar alcançar a imunidade de rebanho por contágio. Ele imaginou que isso apressaria a recuperação econômica e favoreceria sua reeleição em 2022. A estratégia provocou milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.
Os crimes de Bolsonaro são muitos e serão detalhados no relatório da CPI. A lista irá da prevaricação no escândalo da Covaxin ao homicídio por omissão deliberada, passando por infrações sanitárias, uso irregular de verba pública e charlatanismo.
O relatório também apontará uma teia de cúmplices. Alguns deles ainda estão pendurados no primeiro escalão do governo, como os ministros Marcelo Queiroga e Braga Netto.
Embora a CPI tenha evitado confrontar as Forças Armadas, as investigações expuseram o resultado da militarização do Ministério da Saúde. Sob o comando de um general de divisão, a pasta maquiou dados oficiais, deixou testes apodrecerem e ofereceu cloroquina a doentes que precisavam de oxigênio.
Ao contribuir para o morticínio, o Exército escreveu algumas das piores páginas de sua história, ao lado do massacre de Canudos e dos horrores da ditadura militar.
Antes de chegar ao poder, Bolsonaro sonhava com uma guerra civil que matasse 30 mil brasileiros. A pandemia já multiplicou essa cifra por 20. Pesquisadores afirmaram à CPI que o governo poderia ter salvado cerca de 400 mil vidas. Bastava adotar políticas que o capitão insistiu em ignorar.
O presidente respondeu à tragédia com indiferença e deboche. Disse que não era coveiro, ironizou o sofrimento dos doentes e chamou de idiota quem clamava pela compra de vacinas. Em um ano e sete meses, foi incapaz de visitar um hospital para se solidarizar com as vítimas da pandemia. A perversidade não estará entre os crimes listados pela CPI, mas será lembrada por quem revisitar, no futuro, este momento sombrio do país.
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